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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Amor perene



Aprendi que sou amada eternamente independente do que seja ou faça. Sou amada sem condições, total e completamente. Esse amor me trouxe à este mundo e me levará a outros.
E você tem a mesma sorte. É amado absolutamente.

Algo perene e imutável, como o Amor Divino, soa inviável ou incabível nesse planeta, onde as pessoas se matam ou morrem de fome. Onde a natureza egóica do ser já vem com medos pré-concebidos. Mas o amor incondicional não é limitado como a manifestação de amor humano, transcende qualquer julgamento e limite.

Porém, ser amado e viver uma historia de amor do jeito que acreditamos são duas coisas diferentes. Aceitar o amor, e vivê-lo, receber a felicidade e o êxtase que uma relação pode nos trazer, é uma escolha. E Aquele que nos ama, não desiste, está sempre disponível. Nosso coração que precisa abrir as portas. O amor de Deus não invade, não entra sem ser convidado. Você precisa abrir as portas. E é através dele que histórias de amor real são vividas. 

Porque temos desinteresse ou medo de viver o amor? Existem muitos “talvez” para essa resposta - Talvez eu não queira abrir mão do sofrimento e da ilusão, talvez nunca ninguém me explicou sobre amor divino, talvez as coisas mais divertidas da minha vida não estejam relacionadas nem com amor nem com Deus. Mas essa ultima alternativa não existe. Tudo está em Deus. Até as sombras e ilusões que criamos para experienciar a dualidade e fingirmos que estamos separados Dele.
Nossas tentativas de afastamento do Amor Divino são ingênuas e infantis. Mas como qualquer ação, essas tentativas de separação podem gerar dor e consequências para sua experiência como alma individual. Tudo faz parte do mesmo complexo divino. A forma das manifestações, sua vibração e sua intenção é que mudam. E assim podemos escolher se queremos sentir o gosto do céu ou do inferno. Tudo é Sua manifestação, que de tão benevolente, nos permite descobrir aos poucos (seja em uma vida ou seja em muitas) sobre a Verdade e sobre o Amor.

A matrix dual que criamos e sustentamos dentro da Criação, também é cheia de falsas verdades, medos e prazeres, que permitem a alimentação desse sistema relativo, mais virtual do que real.
Mas, como toda criança cresce,  todo espírito - se quiser - amadurece. Acorda a consciência. Deixa de acreditar tão plenamente nas brincadeiras dessa vida. Pode seguir brincando, mas tem a chance de entender sobre o Criador disso tudo. Todo espírito tem a chance de olhar para a luz e lembrar-se de si mesmo. E só a partir desse momento, ele entende sobre seu Ser.

O Ser real, vive e quer viver no amor perene de Deus.




terça-feira, 19 de novembro de 2013

Eu, Lóri e eu (agradecimento à C.L.)

As gaivotas sobrevoavam a cidade, às 3 da tarde. Descobri o voo pela projeção da sombra na parede branca do prédio na esquina. Projeção bem nítida, qualidade do sol forte das 3 horas.
Era tão lindo. Parecia feito pelo homem. Mas acho às vezes que os homens só enxergam as sombras das gaivotas quando eles mesmos projetam. Assim, sombras de um vôo real, passam tão desapercebidas. É a óbvia beleza discreta da natureza.

Essas sombras, por serem sombras, me deram muita vontade de falar. Mas falar pra dentro. Era só pra dentro que eu tinha palavras. Eu temia falar pra fora. Qualquer barulho meu ameaçava a retomada da mudez interior.
Rezei então para que o telefone não tocasse. Rezei para que o porteiro não tivesse recados. Rezei para chegar em casa sã e muda. Como moro no oitavo andar, subi pelas escadas, evitando qualquer risco de um "boa tarde" obrigatório no elevador. Eram muitos andares, cada andar, um ameaça ao silêncio.

Outra coisa que temia, quando senti o verão quente lambuzando minha roupa, era o sono. A preguiça. A pressão baixa que o calor me dá. Essas coisas são mais fáceis de vencer quando se fala pra fora, mas podem engolir uma pessoa que fala pra dentro. Por garantia, tomei um expresso com cacau e açúcar. Senti então minhas pálpebras seguramente suspensas, sem riscos de tombarem sobre meus olhos.

Agora estava pronta e ansiosa para começar a falar para dentro. Café tomado, em casa, sozinha. Mas, e se eu cansasse do diálogo-monólogo? Sei que o assunto não acaba quando assim se fala, e é essa a questão - falar para dentro é como limpar o mar com uma peneira. Não se acaba nunca.
Se eu cansasse de me peneirar, já sabia um algo/alguém com quem conversaria em silêncio. Com quem, aliás, tenho trocado muito: Lóri.

Seus pensamentos, estáticos e impressos em páginas pequenas e gastas, eram tão vivos e dinâmicos para os ouvidos dos meus olhos. Eu a escutava pensar. E o melhor é que eu sabia, eu sei, que ela escuta todas minhas reações e conselhos. Nem sempre os segue, mas, às minhas perguntas, responde na frase seguinte, já escrita antes de eu perguntar. As respostas existem antes das perguntas. As perguntas só existem porque existem respostas. Só se abrem caminhos porque existem destinos, não é? Pois é, é.

Lóri, que não precisava de mim, me escuta porque somos de algum modo, modo esse que ainda não identifiquei, somos de algum modo parecidas. E ela sabe que eu conheço seu Ulisses, e que sei o modo como ele a tratava.

Falar com Lóri era como falar pra dentro, só que com outro nome. E precisando usar os olhos. Também não cansava tanto quanto um monodiálogo, porque Lóri sempre fazia mais esforço que eu. Ela sabia sofrer melhor. Por isso, ela cansava mais.
As vezes eu sentia seu ar cansado e a deixava. Mas sempre que eu voltava ela já estava a todo vapor falando consigo/comigo, muda.

O telefone tocou. E eu nem cansei ainda de falar. Atendi, porque não poderia não atender. Mas atendi como outra pessoa. Usei outra voz, com o mesmo tom da minha. Mas era uma voz tão rasa que não calou a voz de dentro, que ecoa na profundidade.

Gostei  de usar a voz rasa. Ela foi útil, útil como tudo que vem do ego. Útil para que eu não me gaste nas inutilidades.

Essa voz me deixou alegre. Senti que posso o que achava que não poderia.

Alegria boba e boa, dessas que se encaixam em qualquer lugar. Alegria daqui, que me desobriga a correr para o sol porque faz sol, ou arrumar a cama porque é dia.
Fiquei alegre também de ter um eu para tomar um café trocando amenidades.
A eu com quem converso me desperta muito respeito e hospitalidade. Gosto de tê-la (ter-me) aqui. Fico mais educada, quero causar boa impressão, para que suas (minhas) visitas sejam menos raras.

Mas mesmo gostando, me despeço. Tenho que falar com a Lóri. Não que eu tenha cansado da minha própria cia, mas é que quero tudo, sabe? Tenho muito o que falar e não me arrisco a entediar meu eu com meu maremoto de palavras jogadas mar adentro. Depois serei eu que terei que peneirar. E isso deixaria uma má impressão, para a "mim" que sou eu também.

Agora é a hora da Lóri. Esperarei a cafeína e o sol baixarem um pouco. Senão, falo demais, devolvo cada pensamento seu com filosofias furadas e sem fim. Quero falar pra dentro, mas falar devagar. E quero te escutar, Lóri. Quem sabe eu te responda por escrito, pra registrar nossa mudez. Quem sabe.








quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Femininas, meninas, e a natureza

A parte mulher do mundo, é a parte bela e confusa.
A emoção, a água, a fragilidade.
A beleza, a pureza, a divindade.
E no mundo, elas se reconhecem.

O que aqui expresso, é um pequeno registro de amor feminino:

Sereias cantam sobre a mesma pedra, umas para as outras.
Encantadas com suas próprias vozes ecoando juntas,
Esquecem de vitimizar os marinheiros.

Intensa troca. Suplica para ser expressada. Escrita, cantada.
Sem acordos, pudores, medinhos
Com acordes, poderes, carinhos
Os rumores? Cobrimos com cores.

O que há, o que é:
- Permissão e respeito ao poder feminino que habita na outra.


Poemas temáticos - Exposição Isidora&Mariana

O Lençol

Células mortas
Memória viva

Células vivas
História morta

Cobre e descobre a vida e a morte
Protege o escancarado
Vela o sono, enfeita o sexo

Lençol gosta de pele, pêlo
Saliva e respiração
cama e chão
colchão

Sempre manchado de gente, 
Lençol, ente presente

A linha

No começo, o nó, para prende-la, fina linha. 
Que perfura, pequenina, na garupa da agulha
E costura (como num nado, mergulha e emerge, ora exibida, ora omitida)
No final, o laço - une belo o embaraço do que a linha quis trançar
E ali ficam atados, 
Elementos costurados no pano do mundo
É a trama da vida

Crua

Estou de alma nua num corpo vestido
E quando o corpo se despe, a alma dança
Como bichos no verão, lagartos sob o sol, fico nua para ti por instinto, pois essa é a minha natureza.
E nada cabe senão natureza no espaço que habitamos.
Por isso assim o faço, me desfaço, sinceramente à vontade.
Estou nuamente vestida. Apropriado e eterno traje para nossos encontros.

Não perecível

Não te achei. Apenas dei-me conta de ti.
O achar-te, traria o medo de perder-te.
Dei-me conta de ti em mim.
E não me distraio mais. 
Agora já sei que és, estás, e em mim viverás.


Molho

Sou de água. Quase toda.
Em quase tudo.
Se cristalina ou lodo, escolha minha.
Se gelada ou morna, fértil ou estéril, decido eu.
Só não sou afeita a todo frasco. Transbordo o limite, evaporo sem ferver. 
E o mais importante:  não gosto de aquários. 







quarta-feira, 10 de julho de 2013

Vento

Nunca gostei de vento. Já sou aérea o suficiente. Friorenta o suficiente.

Mas existe uma rara brisa marinha que me encanta, por ser quente.

É um vento perfumado de sal, que abraça o peito sem machucar. Causa arrepios nos meus arrepiados pelinhos e faz cafuné nos meus já bagunçados cabelos.

Esse ventinho quando chega, é recebido pelo meu corpo como um presente desavisado. Suspiro e sorrio, reflexos do prazer invisível.

Ah, vento quente, tão raro e passageiro és. Mas tua raridade garante minha surpresa. Tua fugacidade, minha inteireza. Porque, se não somes, me sopras como sopras os grãos de areia. E mesmo te adorando, prefiro estar inteira.

Brisa cálida, que já passou...eu não te espero voltar.
Mas se voltar, te recebo, pois gosto do teu sal no meu corpo, e do teu carinho nos meus cabelos.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

"Koi No Yokan"

Denso Reencontro.


No primeiro olhos-nos-olhos, a sensação alegre de rever quem já fazia parte da minha vida.
Tão íntimo e tão verdadeiro. Matei a saudade que não existia até então.

Ele estava no meu futuro. Aceitei-o, naturalmente, no suave reencontro.
Ele trazia a certeza. Certeza de não precisar entender para saber, não precisar testar para confiar.

Permiti sem medo a invasão do outro. Invasão não, pois esse estranho era de casa.

Seguimos o protocolo. Até porque, a vida exige. Passo a passo, sem atropelos.
Mas assinamos o acordo de elo eterno sem ler o contrato. Folheamos sem curiosidade as cláusulas dos poréns e entretantos.

Mesmo antes de termos algum papel na vida ou da vida do outro, já existiam, carimbadas no destino, nossas digitais cruzadas.

Permitir ou não permitir. Será que existe essa escolha?

Mesmo se nosso olhar não voltar a se encontrar, e nossas escolhas nos distanciarem...mesmo assim, o que existe, já existe. E foi construído antes de precisarmos pensar sobre.

E assim foi o reencontro.





terça-feira, 30 de abril de 2013

Sintomas de gripe

Hoje quero pular 10 anos no tempo.

Voltar pro conforto da adolescência, ou voar para o meu futuro lar em família.

Só preciso de aconchego, só isso. Só hoje.

Só quero um sofá, um chá, um cachorro. Um pai ou um marido. Ou um filho.

Quero fazer compras do mês para mais de 1 pessoa.
Quero dividir meu café da manhã.
Quero carona. Quero dar carona.
Quero comprar 4 entradas de cinema.
Quero apagar luzes que não acendi.
Quero procurar minhas roupas na montanha de roupas passadas.

Quero alguém que opine sobre minhas roupas, que feche o zíper que não alcanço.
Quero alguém que possa achar coisas nas minhas gavetas bagunçadas, quando esqueço algo em casa. Quero alguém que me ajude a acordar quando o sono atrapalha, e que goste de preguiça aos domingos.
Quero ter de quem reclamar. Quero alguém pra massagear.

Quero que alguém cuide de mim.
Só por hoje. Não é sempre assim.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Lord Indra

Aqueles olhinhos julgadores como um soldadinho na porta do céu me olharam sem simpatia. Mas eu estava no meu terreno, protegida.

Foi assim. Com ar de sabido e segurança de quem já viveu que ele me intimou à verdade.

Analisou meus músculos emocionais, e, disse que minha atrofia seria curada quando eu me jogasse nas águas turvas da minha verdade.

Nem perguntou se eu sabia nadar. E eu me joguei. A água estava morninha. Mas cheia de correntes, sabe.

Aquelas mãos determinadas e cheias de opinião se mantinham escondidas sob braços cruzados, e existia um certo prazer em me ver nadar ora na luz, ora no lodo.

Ele não admitia, mas gostava de brincar. E dizia que eu que sabia jogar. Eu obedecia às regras da sua brincadeira.
Antes da chance de derrota, vitória, ou game over, ele pausava a tela. E o próximo play era sempre imprevisível.

Como um Deus controlador, age enérgico. Reflexo sou eu de suas fraquezas. E da sua franqueza.
Mas que seja, que assim seja.



A caneta e o açúcar

Sento, me equilibro no banquinho sem acento que desafia meu corpo cansado. Apóio meus cotovelos nas embalagens de mariolas que devorei pra acalmar o pensamento.

Já é tarde, mas a vontade de escrever não passa, tento ocupar minha atenção me concentrando em desgrudar a mariola dos meus dentes. Elas parecem taradas. Agarram as gengivas por todos os lados, derretem-se ao redor do ídolo-dente.

E a vontade de escrever permanece. Rabisco todas as palavras que a caneta quiser, pra ver se dá rima. Quero compor outra música. Quero cantar minha composição, musicada por algum amigo que me acompanharia nesse acústico voz&violão não ensaiado.

Preciso pensar devagar. A regras de acentuação e pontuação não acompanham a velocidade do meu punho, que trabalha em apnéia, sem parar pra respirar. E minha letra, tão feia. Tão diferente das fontes (também feias) que uso. Ao menos as palavras que escrevo errado não ganham os sublinhados vermelhos que me desconcentram.

Pausa para outra mariola. Essa vez, vou tentar mante-la sobre a língua, evitando os abraços grudentos nos meus dentes. Hm...much better...

Meu olhar vago é atraído pela cortina agitada. Ela dança um bolero com o vento. A cortina, como o gênero da palavra diz, é a dama nessa dança. O vento, por sua vez, é o cavalheiro. O vento guia, a dama segue. Por vezes falta delicadeza e a dama-cortina é arremessada bruscamente. A cortina tropeça e o veto retoma o passo.

Eu acredito no vento. Mesmo sem ve-lo, observo o que faz com minha boba cortina.  Ele existe. E tem poder. E assim me relaciono com tudo que não vejo: observo as consequências da existência do invisível.

Forte como o vento essa história de invisibilidade. Até me fez perder a linha de pensamento, que já estava enosada. Quem sabe esse novelo de palavras soltas chegou ao fim.

A dose cavalar de açúcar na minha boca, no meu sangue e (acidentalmente) nos meus cotovelos, melou meu raciocício.
Mas não freou o fascínio que a caneta causava na minha mão esquerta, tão canhota.
- Saudades de ser protagonista, mão ciumenta? - Digitando, a pobrezinha não se sobressai à outra. Agora domina a caneta, e a destra segura o papel, para que reine absoluta.

A caneta perdeu seu caráter indispensável. Deixou de fazer parte dos itens encontrados em qualquer bolsa. Do trio onipresente caneta-agendinha telefonica-kleenex, restou apenas o kleenex. Isso enquanto não inventarem um aplicativo neutralizador de lágrimas e coriza...

Um chá forte de camomila, por favor! Meu corpo precisa dormir,  mas o trem de idéias desconexas movidos a açúcar segue a todo vapor.  Quem sabe, na cama, vire um sonho divertido. Boa noite.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Pureza

Saí do trabalho rumo ao abraço.

Pedalei pacientemente, até o pitstop intencional para uma rápida visitinha.

O porteiro me confunde com alguém. E eu finjo ser esse alguém. Entro no elevador rindo. Abro a porta do apartamento escuro e destrancado. O corpo do menino esparramado no sofá com cheiro de sono me olha e sorri.
Sem sair do sofá me abraça forte. Iniciamos o questionário básico de amigos com saudades.
Ele fala de trabalho, eu falo de trabalho. No meio do gesticular, descubro nele uma nova tatuagem, e ele me mostra em seu caderninho o desenho, me conta o significado, e fala sobre os elementos do seu mapa astral. 
Discutimos amenidades e fofocamos sobre vizinhos interessantes. Os vizinhos dele. E o meu vizinho. Ele resolve pausar o filme, que interrompi sem pedir licença. Deixei o pobre Petit Nicolas falando francês com as paredes. 
O tema muda. Compomos um mini discurso anti drogas. Que bonitos somos. E esperançosos.
Eu pergunto, ele responde: A menina linda com quem sai  esta fisgando bastante espaço na sua vida. Que bonitinho. Ele é esperto e  faz a leitura da princesa de uma forma tão realista. Sinto orgulho de mãe. 
Ele é movido pelo tesão juvenil. Compartilha os fatos comigo como se estivesse no divã. Me sinto uma terapeuta vivida, uns 30 anos mais velha que ele. Ele pede minha opinião. Eu escuto tudo sorrindo, e opino.

Ele me elogia e muda de assunto. Faz cócegas e me embala num abraço sonolento. Começo eu a contar minhas aventuras enquanto ele me olha, com uma ruga na testa. É preocupação. Ele se preocupa comigo. E eu, com ele. 
Acompanho o amadurecer desse menino-homem. A gente se escuta, e ele sorri pra mim, a mulher-menina. 

Já é tarde, preciso pedalar antes que o sono me pegue desprevenida nesse sofá quentinho. Observo analiticamente seus gestos antes de me despedir. Que pessoa livre, meu Deus. Me vejo nele todinha. Inclusive nas faltas de noção. Aprendo a medir minhas palavras ouvindo seus baldes de frases sem cuidado com meus ouvidos (mesmo mal-medidas, todas têm amor, e são sinceras).

-Passa pra me visitar?
-Passo, vamos inventar alguma coisa. 
-Quero conhecer tua gatinha.
-Hahaha, ah Mari...

-Boa noite, te cuida.
-Vai com cuidado, catarininha. 

Existe pureza. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Expressão

Para não concretizar ou rotular o que sou:
Tenho me esquivado de me ver em coisas. De ser dona das coisas.
O que é de mim, ou sobre mim, só em mim se encontra. Meus ambientes não se parecem meus. Eu os habito apenas, mas não pertenço a eles.
Ter ou possuir,  responsabilizam. Só quero estar. Ter é concreto, ser é mutável e  estar é volátil. Preferi até agora passear como fumaça de incenso, perfumar os ambientes, e evaporar.

Os esbarrões entre algo no mundo que seja meu com meu próprio eu, estão ocasionais. E, quando se dão, adoro os reflexos das minhas coisas nas coisas, que, por escolha, viram minhas.

Ao contrário da maioria das pessoas, achava mais cômodo me expressar através da leitura do outro. Me percebia um conjunto de coisas herdadas. Isso é só o descompromisso com o rótulo.
O jeito mais justo de enxergar minhas referências são nas minhas palavras, nas minhas amizades. Jamais nas minhas coisas. Ainda não me traduzi materialmente, continuo sendo um dialeto sem alfabeto.

Mesmo sem alfabeto, está nascendo a vontade de me ilustrar em coisas. Transcrever meus tons nos pertences. Conter-me no que contenho. Quero colaborar com alguns retalhos dessa colcha de heranças que me cobre. Bem levemente. Quero costurar pedacinhos dos véus que em vão dançam sobre minha permanente nudez.

Surgiu a curiosidade de ver meu eu ao meu redor. Como seriam meus pratos e meus lençóis se estes tivessem a minha cara? Quem sabe estou hoje mais para porta incenso que para fumaça. Mas talvez seja só por hoje.


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pranayama

Inspira.
Expira.
Inspira. Retém. Expira.
Inspira. Retém. Expira. Retém.

O nariz vira carrasco, o ar vira refém.


domingo, 30 de dezembro de 2012

2013

2012 foi um ano de plantio. Muito trabalho braçal pra plantar as intenções e os sonhos de futuro. Muitos, muuuiiitos encontros.
Foi um ano de aceleração e encurtamento do espaço entre o desejo e a realização. Estamos ganhando força e sentindo nosso poder. Foi um ano cansativo. E feliz.

Assim como plantar um jardim inteiro, uma horta que seja, dá trabalho, e exige paciência para que se possa colher o primeiro fruto. E é essa a parte boa que vem por aí. De tanta semente jogada no terreno da intenção, 2013 será um ano de início de colheita. Vai dar pra sentir o sabor de algumas frutinhas enquando continuamos podando e regando as mais demoradas.

2013, sinto eu, será um ano menos místico e mais mágico. O poder de materializar intenções vai tomar conta do dia-a-dia. Não precisaremos de muitos rituais pra sentir tamanha a força regente. O velho mundo acabou. Agora somos mais. E mais responsáveis também. Cada nuvem de pensamento pode precipitar em chuvas de realidade. Vigiai e orai. Cuide dos pensamentos. Cultive boas intenções. Dê poder ao bem. Aproveite o resultado do suor de 2012. Seja grato. E confie. A gente sabe que não sabe tudo. Que as rédeas do nosso destino são cocriadas com o cosmos.

Ocupe-se fazendo tua parte. E confie mais na organização natural das coisas. Essa lei existe, e não falha. Um pouco mais de entrega, mais peito aberto, mais mãos ativas.

Estamos no Cio da Terra. Propícia estação. E afagamos a Terra  já bebendo a garapa da cana.

2013 será lindo, queridos terráqueos. Acreditem.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Beijada pelo Sol

Acordei com o Sol beijando minha pele. Poético, mas literal.

Lá fora chovia. Mas meu quarto sorria inundado de luz e calor. Aquele calor que por pouco não queima. Que, por pouco, não transforma gemido em grito.

Minha noite teve sol, um eclipse ao avesso que me aqueceu do vento sul noturno. A Ilha  tem dessas coisas. Os astros aqui se comportam no flow da magia.

Esse banho solar vitaminou meu espírito, fotossintetizei, nutri carências. Matei saudades.

Tanto sol brilhando na chuva, só podia: um arco-iris nasceu dentro de mim. Suave, volátil, lindo, passageiro.

O Sol vem e vai, brilha, some, queima, se esconde;  é sazonal.
Perto dele, e com ele, é luz todo dia, verão sem fim. Mas preciso dos invernos e das noites também. Não apegar-me ao brilho, mas ser grata quando seus raios me atravessam, esse é o caminho.

Agora que o sol se foi, delicio a sombra que ele deixou em mim. Logo o tempo muda, e o Sol volta a brilhar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O dia da não-inspiração

Minha trava para escrever crônicas tá crônica.
A vontade de dividir lendas virou lenda.
Assuntos e temas, tenho baldes.
Alguns mofando por desuso.
Ando respirando fundo
Pra ver se inspiro inspiração.
Acho que ela está tão diluída nas músicas lindas e luas cheias que tenho visto,
Que ficou difícil aglutiná-la em palavrinhas.
Talvez eu deva postar fotos.
Mas eu nem tiro fotos.
Se eu pudesse imprimir o que vejo e sinto...
Estilo Avatar hightech: conecte seu cabelo à tela e sinta o que eu sinto.
A inspiração fugiu pelas janelas dessa tela,
Vem circulando pelas janelas da minha alma.
Caso alguém encontre uma inspiração condensada ou em pó,
Me envie por SEDEX.


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ideias inteiras



Não tenho paixão por pesquisa. Nem em papel, nem em tela. Gosto sim é de saciar a curiosidade, essa moça gulosa que me habita.
Gosto de ler os outros, mas falo também sem ler. E acho possível alguém citar algo que não leu. As ideias estão soltas por aí, podemos repescá-las sem pagar royalties.
Tenho paixão por inspiração. Tocar a campainha do inconsciente coletivo, que mora láááá na oitava dimensão, e pedi-lo emprestado ideias. Geniais ou não. Até porque, para os meus sensores, ser genial mais tem a ver com fluidez do que com QI. Para mim as pessoas geniais tem como maior esforço manter bem limpo e lisinho o escorregador que conecta a inteligência universal à nós, humanos.
Com o fluxo livre neste canal, os gênios conseguem ser geniais.
Mas há um detalhe nesse tubo por onde as ideias passam líquidas: ele se bifurca em dois canais na sua parte final - um desemboca nas nossas cabeças e o outro nos nossos corações.
Como num processo alquímico, a ideia é dividida para ser metabolizada pela razão e pela emoção, podendo assim ser aplicada por completo pelos geniozinhos que fazem mudanças aqui nesse mundo. Essa engenhosa bifurcação, quando em mau uso, desmembra a ideia e consequentemente, o mundo: separa o caos da ordem, a razão da emoção, o business da arte.
O escorregador que vai para a cabeça é formado por linhas concretas, cores definidas, e o escorregador do coração é assimétrico.
E tem humano limpando um canal só. Assim, o outro fica sujo, bloqueado, sem fluxo. E as ideias não ficam inteiras. Pesam demais pra razão, ora pra emoção, e desse jeito não rendem o que poderiam render. Mas aí atuam os gênios. Esses, que não sofrem de constipação crônica de ideias inteiras. Os gênios vem à serviço. Ajudam a liberar as vias constipadas dos outros, alargando os pensamentos e quebrando, com seus martelinhos da criatividade, as paredes que apertam as ideias nos limites curtos do possível. Costuram as boas ideias quebradas ao meio.
Assim, com fluidez, faz-se jus às inspirações que pescamos lá do além (temos a ilusão que as criamos... oh seres egóicos).
Usar o potencial humano sem desperdícios.
Aproveitar as ideias sem desperdícios.
Limpar os escorregadores já.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Eu escrevo

- Você também escreve? Perguntou-me uma escritora, autora de alguns livros.
Calei por uns segundos tentando encontrar uma resposta sincera.
- Não realmente, mas eu tento. Respondi, não muito feliz com a resposta.
O que afinal é escrever? Para afirmar que escrevo devo ter técnica, métrica e publicações? Ou ter paixão pela expressão das palavras escritas?

Dias antes, da boca de um entendido das letras, ouço criticas aos 'metidos a poeta', aqueles que escrevem sem a noção estrutural de versos e rimas.
- Mas, e os apaixonados que escrevem sem estudar sua própria escrita? Inválidas seriam suas palavras?
- Ser poeta é profissão e os verdadeiros poetas criavam com grande conhecimento do que faziam.
Ai, duas pontadas no estômago na mesma semana. Mas as teorias sobre escrever e compor também partiram do nada, de alguma mão desgovernada regida pela emoção, não?
Como pode uma expressão artística ser inválida? Não seria elitizar o livre espaço de expressão? Ok, sei a diferença entre minha comida e a comida de um chef, mas se eu cozinhar com paixão, posso fazer algo lindo e delicioso, mesmo que as cenouras não estejam cortadas com perfeição. E se me perguntassem nessa situação: -Você cozinha? A resposta seria: -Sim, adoro cozinhar!  Provável que a partir dessa resposta, surgiriam convites animados (e corajosos): 'vamos cozinhar lá em casa', ou 'quero provar um  prato seu'. Caso minha papinha agrade as papilas gustativas, as narinas e os olhos do outro, certo que não haverá régua medindo a espessura da cenoura. E, caso não agrade, criticas virão. Ótimo também, assim que se aprende. O feedback do outro pode ser impulso para aprimorarmos o que fazemos. Então, por que não entregar a resposta segura sobre a questão da escrita: '-Sim, escrevo, e adoro escrever!' Afinal, os corações que eu conseguir tocar não irão medir minhas rimas pobres ou ricas; e os olhos que eu não encantar, podem me trazer criticas que serão meus degraus no processo do aprender. Quando há paixão, vontade e verdade, porque não? EU ESCREVO, SIM.

Em prosa ou poesia,

Rabisco a melodia
Que cantarola em mim:
Tons de tristeza, notas de alegria.



Não quero calar meu verbo
Ante as medições de alguém
Pois o silêncio forçado
Vira ferida mais além.

Né? 





terça-feira, 3 de julho de 2012

(P)arametro de (A)mor (I)ncondicional

Conheço um cara sensacional. Além de moreno, alto bonito e sensual, é bem sucedido no trabalho e no amor. Corre pelas manhãs, vai à missa aos domingos, ajuda aos pobres, chama os empacotadores do mercado pelo nome, tem ótimo gosto musical, não fuma, só bebe vinho, é organizado, responsável, escreve bem, canta bem. É bom com datas, não esquece aniversário de ninguém, nem datas especiais. Sabe comprar absorventes e sabe como curar cólicas com do-in. Ele entende a necessidade das idas à manicure. Me faz companhia no cabeleireiro, mas fala que sou linda de qualquer jeito. Ele anda comigo de mãos dadas, ou braços dados. Ele me acorda com musica, e faz cappuccino e salada de frutas. SEMPRE. Ele me escuta. SEMPRE. Envia emails com musicas lindas e sms com declarações cheias de carinho. Liga o skype e manda eu mostrar um sorriso contente. Caso eu esteja manhosa, ele me desconstrói e faz a vida ficar leve e colorida, num piscar de olhos me sinto no colo de Deus. É um encorajador, mas consola quando me sinto triste ou perdida. Esse cara entende meus problemas. Desde que o conheço, é pra ele que corro se me machuco ou fico doente. Ou se tenho duvidas entre a marca de tênis a comprar ou o emprego a escolher, peço sua palavra final. Ele me acha talentosa, bonita, e não cansa de falar. Adora ler, diverte-se em sebos e livrarias. E me conta historias, muitas. Ama cachorros. Ama crianças. Esses por sua vez, apaixonam-se por ele de cara.  Ele fica entre um bando de mulheres e não reclama, passeia no shopping e não reclama, e sabe fazer pipoca caramelada pras noites de TPM. Ele trata todo mundo com respeito, e recebe com amor qualquer pessoa que eu apresente. Me buscou na porta da escola, todos os dias, até meus 18 anos.É lendário entre meus amigos. É gentil. Sensível. Na frente dele faço as maiores besteiras, perco e quebro coisas, bagunço, choro. Ainda assim, ele confia em mim. Lendo esse texto, parece que estou narrando um principe, ou algum amigo gay que ama as mulheres. Mas estou falando nua e cruamente sem romancear ou florear, sobre o MEU PAI. Sorte, fui criada por um homem que entende a alma feminina, que é carinhoso e fala 'eu te amo'. E não é machista! Nem ciumento! Mamãe foi sortuda. Mas...e eu? Como fazer pra viver com um parâmetro de homem como esse? Vim de um cavalheiro sem valores individualistas, que troca o prazer próprio pela felicidade comum, que se doa, que sorri muito...E ainda por cima aceita meus namorados, torce pra que eu ame muito, para que eu consiga canalizar todo minha energia borbulhante em uma relação verdadeira. Difícil achar numa relação só tudo que ele me fez ver como básico e normal. Acho justo me chamarem de princesa após conhecerem meu pai. Sou de fato. Mimada? Não. Amada e acarinhada. Bem tratada. Quero que minha filha sinta pelo seu pai o mesmo que sinto pelo meu. Pra isso, busco agora em mim e no outro menos expectativas e mais doação, mais construção, e mais fé. Esse homem, quando ainda menino, começou somente com fé, amor e doação. Preciso aprender sobre fé e sobre doação. Vou observá-lo melhor. Amor, ah, amor já transborda. Tá no sangue.

terça-feira, 26 de junho de 2012

The day after

Descobri que na Argélia há neve, que se fala francês e árabe e que o país é predominantemente muçulmano. Isso para mim é novidade. Descobri que ignoro a realidade no mundo e as realidades da minha cidade. Descobri que os asilos da Romênia são de primeira qualidade, que o povo de Nepal é muito simpático e que há lindas ecovilas veganas nas redondezas de Londres. Vi que alemães e indianos estão interessados nas mesmas causas, que turbantes e burcas podem conviver com meus shorts jeans, pois há momentos e lugares onde nos despimos de preconceitos étnicos e vemos a diferença como tesouro. Saquei que chineses podem ser muito engraçados e que os japoneses podem tocar um maracatu que nada deixa a desejar aos batuques nordestinos. Descobri as guloseimas turcas e a moda coreana. Redescobri a estética e o charme italiano. Ah, os italianos... sempre megalomaníacos! Vi o luxo e o lixo da diplomacia muitas vezes hipócrita, senti o preconceito machista dos brasileiros e senti o amor puro de quem vive para fazer o bem. Questionei-me sobre o bom e o ruim, o certo e o errado e desviei algumas culpas renomeando-as de experiências e aprendizados. Senti profunda emoção, devoção. Também desilusão.
Cansei o corpo, a mente, ganhei muitos contatos e alguns bons amigos. Vi que, frente à nessecidades básicas, todo ser humano é semelhante, mas a sabedoria e a cultura se diferem em nuances peculiares. Observei muito mais do que julguei. Nem sempre eu dei o meu melhor, mas estive presente. Nenhum arrependimento. Meu day after da Rio+20 vem com um sorrisinho de Buda, aquele de satisfação interior.
Agora, durante o nunca suficiente descanso, vou absorvendo lentamente as experiências e nutrindo as novas conexões.


Rio+20 - mil novidades ainda por vir.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

De férias para trabalhar

Estou de licença, holidays! Férias do blog, por motivo de trabalho excessivo! Mas é por uma boa, ótima causa! O mês de junho sera histórico na cidade do Rio de Janeiro! Eventos MIL acontecendo, e eu, metida e elétrica, consegui me enfiar em muitos deles. Resultado: estou com uma carga horária de trabalho de 12h diárias, sem folga semanal. Sobreviverei pra escrever a história. A Rio+20 e a Cúpula dos Povos estão trazendo um movimento lindo pra cidade, e, independentemente das criticas aos eventos oficiais, há muito para ver e fazer. Vários congressos, ações, TEDs, encontros mundiais, etc etc etc e etc. Muitos etc MESMO. Essa cidade virara uma torre de babel junina, e eu estou dançando essa quadrilha. Por isso, peço licença e vou 'ouzardizer' ao vivo e a cores, nesse mini mundo com representantes civis e políticos da Terra inteira. Me aguardem. Alem de olheiras profundas e contatos pra couchsurfing pelo mundo afora, trarei news!