O Lençol
Células mortas
Memória viva
Células vivas
História morta
Cobre e descobre a vida e a morte
Protege o escancarado
Vela o sono, enfeita o sexo
Lençol gosta de pele, pêlo
Saliva e respiração
cama e chão
colchão
Sempre manchado de gente,
Lençol, ente presente
A linha
No começo, o nó, para prende-la, fina linha.
Que perfura, pequenina, na garupa da agulha
E costura (como num nado, mergulha e emerge, ora exibida, ora omitida)
No final, o laço - une belo o embaraço do que a linha quis trançar
E ali ficam atados,
Elementos costurados no pano do mundo
É a trama da vida
Crua
Estou de alma nua num corpo vestido
E quando o corpo se despe, a alma dança
Como bichos no verão, lagartos sob o sol, fico nua para ti por instinto, pois essa é a minha natureza.
E nada cabe senão natureza no espaço que habitamos.
Por isso assim o faço, me desfaço, sinceramente à vontade.
Estou nuamente vestida. Apropriado e eterno traje para nossos encontros.
Não perecível
Não te achei. Apenas dei-me conta de ti.
O achar-te, traria o medo de perder-te.
Dei-me conta de ti em mim.
E não me distraio mais.
Agora já sei que és, estás, e em mim viverás.
Molho
Sou de água. Quase toda.
Em quase tudo.
Se cristalina ou lodo, escolha minha.
Se gelada ou morna, fértil ou estéril, decido eu.
Só não sou afeita a todo frasco. Transbordo o limite, evaporo sem ferver.
E o mais importante: não gosto de aquários.
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