Quero que meus poucos e bons saibam quem são. E peço perdão.
Não tenho acompanhado o processo de crescimento das minhas relações, jogo sementes a Deus dará, e esqueço de regá-las, apostando que os anjos o farão por mim. Magoei, desrespeitei, desvalorizei, mas como em toda moral de história, quem sofreu com isso fui eu. A ânsia de nadar em todos os mares e conhecer todas as vidas, todas as possibilidades e todas as coisas me levaram para fora do meu próprio cercado. Curti tanto as gramas verdinhas dos outros que esqueci de cuidar do meu jardim, tornando-me assim alguém não muito agradável para os que têm em mim raízes: os poucos, grandes e especiais amigos.
Mas peço ainda que por favor lembrem-se do porquê um dia me permitiram entrar em suas vidas. Peço que me enxerguem como uma árvore de lichias. Plantamos essa árvore porque amamos sua sombra e seus frutos. Quando suas raízes estão firmes e a primeira florada vem, aquilo enche o coração de satisfação e alegria, pois acompanhamos todo o processo e saboreamos então nossas frutas: diferentes, lindas, doces. Esperamos colhê-las todos os anos, mas há anos que nossa árvore não floresce, não dá frutos. Ficamos frustrados, pensando no porque não plantamos uma goiabeira, que certamente sempre estaria carregada de frutos. Mas, se lembrarmos do gosto e da cor das lichias, do quão especial são; lembraremos o porquê daquela arvore estar ali. E sabemos que voltará a florescer e dar frutos. Paciência. Às vezes seus frutos estão caindo fora do cercado e sendo comidos por pessoas que vem e vão, gente que não conhece a árvore nem nunca a cuidou. Daí sentimo-nos injustiçados. Afinal somos nós os que estivemos ali podando e regando. Bom, eu já tive pés de lichia assim no jardim da minha vida. E tenho sido um na estação sem flores, onde os poucos frutos têm caído para fora da cerca.
Nadei em todas as águas, limpidas, turvas, quentes, geladas... me jogo sem nem pensar se quero realmente me molhar. Nado apoiada na bóia do edonismo, pois não sei mergulhar. Sempre soube, mas agora ando com medo de descobrir o que há ali dentro, dentro do meu próprio lago. Lago meu que virou pesque-pague, sem restrições, onde doo meus peixes a quem quiser pescar e esqueço de alimentar meu próprio estômago e o estômago dos meus amados.
E isso tudo mesmo tendo um sexto sentido tão apurado... Mas agora a consciência atingiu meu coração. Peço desculpas e peço perdão, vou levantar meu olhar, redirecioná-lo do umbigo para o olho do outro, mas o outro agora, serão os poucos e bons. Chegou a hora de cuidar do meu jardim, florescer meus galhos e fechar o pesque-pague. Quero ser um lugar habitável para os que eu tanto amo.
Tudo isso foi e é valido, pois os poucos e bons também encontrei em lichias no chão ou em águas turvas. Mas agora já sei, que, quando a gente gosta, a gente cuida. Eis aí a lição a ser aprendida. Via de mão dupla. É dando que se recebe.
3 comentários:
Isso aí Maroka!! Saudade de ti, quando vir pra Floripa, me liga né, pra gente combinar um sushi, afinal.. Você está me devendo lembra??? haha Bjo!!!!
Lindas palavras, espero ver flores de lichia na primavera...
Adorei!! Era tudo que eu gostaria de dizer para uns poucos e bons e jamais tive coragem de dizer. Vou me inspirar nas tuas palavras.
Um abraço bem forte
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