sábado, 27 de agosto de 2011

O Império do Medo

Não sou nostálgica. Meu tempo é o presente. Só dou graças a Deus por ter sido jovem e feito a minha formação como gente em tempos onde o mundo tinha futuro, sentido e onde viver era mais do que correr atrás da máquina.

Tenho pena dos jovens de hoje, onde o grande desafio é conseguir emprego. Sobreviver, a palavra de ordem. Competição selvagem coisa normal, do dia-a-dia.

Nos anos 70/80, estávamos descobrindo que o amor era real, sentimento, não convenção. Que posse, ciúme, não eram valores a ser levado a sério e sim distúrbios a serem tratados. Que podíamos viver juntos, com afeto, mesmo não sendo da mesma família. Os filhos de um eram de todos e os amávamos.

A busca espiritual, sentida no coração, nos levava por caminhos desconhecidos, encontrando semelhantes e adquirindo sentido para a vida, a alma e a liberação dos estreitos caminhos mentais e sociais por onde andava a maioria cheia de temor do novo (ou antigo, antiquérrimo), seres como Abraão, o primeiro homem a ouvir a voz interna de que se tem notícia.

Liberdade era sagrada, inquestionável como valor. Talvez porque sabíamos o que era perdê-la. Ter idéias próprias, originais, era criatividade, necessidade para o mundo.
Alegria era o estado que resultava desse mundo cheio de esperança. Pensávamos que as pessoas seriam cada vez mais livres, o amor cada vez mais real e a mente aberta aceitaria diferenças com normalidade.

 A natureza era o lar. Havia Thoreau com Walden, a vida nos bosques (recomendo veementemente), mostrando a simplicidade da vida descondicionada de valores mercantilistas, a enorme sala de visitas que tinha na floresta onde vivia e fazia festas sem limites de pessoas, porque cabiam quantos fossem. Comida também não era problema, já que as árvores estaval carregadas de frutas.
Parece ficção o que escrevo, não? Ou "viajação". Ah...estes hippies velhos...


Nada disso, meus amigos! O mundo caminhava nessa direção quando o dinheiro e a caretice gritaram mais forte. Talvez pelo excesso de gente, a necessidade de sobreviver. Ou, aposto eu, pelo medo. De ser FELIZ, o grande medo! Se ser LIVRE, o terror de fazer besteira se não houverem as tábuas da lei. Certo e errado têm que estar muito claros. Transgredir? Nunca. Pelo menos abertamente. No escondidinho vale tudo, sexo sem amor, passar por cima do amigo para conseguir emprego, SEGURANÇA a palavra chave.

Só que daí nada muda, progride realmente, em termos culturais e evolutivos. Para que isso aconteça pessoas têm que se expôr, pescoços têm que ser colocados nos trilhos. Viver tem que ter congruência. Não dá para discussar uma coisa e viver outra. Há que se pagar um preço. Barato, a meu ver, perto da falsidade  e covardia exigidos por essa sociedade pseudo-moralista, pornográfica, que abusa de crianças mas não pode aceitar que seu companheiro ou companheira tenha liberdade de ser  e pensar por si próprio.

Não pensem que falo por mim. Eu não vivo isso. Não poderia, já teria morrido se assim fosse. Tenho náusea de hipocrisia. A verdade e a liberdade são valores pelos quais mais aprêço tenho. Vocês bem podem imaginar que sou muitas vezes intragável. Mas não me importo, gosto disso. Me sinto fazendo a minha parte, trazendo o meu aprendizado para relembrar aos jovens que a vida é mais...muito mais... do que ter o carro do ano, a bolsa de grife e ser possuidora do "meu marido" ou "minha esposa". Argh!!!

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