segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Como eu comecei o milênio...

Aí vai um trecho do meu livro, para os blogueiros ficarem com vontade:


O ano 2000 se aproximava e todo mundo na estação de esqui onde eu morava começou a comentar o que ia fazer para o tão esperado evento. Era uma euforia geral e a expectativa do crash dos computadores, o fim do mundo e tudo mais. Eu e as meninas  que moravam comigo ainda não sabíamos o que fazer. Amanda, uma hippie maconheira com dreadlocks e poucos hábitos higiênicos, nos convidou para a festa de uma amiga em Reno, no estado de Nevada.
Ao chegar lá, um grande grupo de garotas psicóticas correram em nossa direção, berrando:
¾   Amandaaaaaaaaa!!!! Meu Deuuusss, que saudadeeeeee!
E todas elas começaram a se abraçar, pular uma na outra e beijar na boca. Eu e as meninas nos olhamos boquiabertas:
¾   Cara, é uma festa de lésbicas!!
¾   Puta que pariu.
¾   Abaixo o preconceito, meninas. Vamos nos divertir mesmo assim. Tem uns carinhas interessantes perdidos por aí.
Beber era a saída. Garrafas e mais garrafas de champagne. Perto da meia noite, alguém completamente bêbado chegou e disse que o melhor lugar para assistir os fogos era o telhado da casa, que comportava a todos. Que ideia maravilhosa (para bêbados!).        
Foi lindo ver todos escalando as árvores no lado da casa para alcançar o telhado. De repente, havia mais de 40 pessoas lá. A festa tinha sido praticamente transferida para o telhado, e quinze minutos antes da meia noite começaram a acender todos os baseados, cachimbos e bongs que você possa imaginar. Eu, que já estava bem mais pra lá do que pra cá, comecei a contagem regressiva:
¾   10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 – FELIZ ANO NOVOOOOOOOO!!! Uhuuuuuuuuuuuu!
Tá. Era o tão esperado ano 2000 e nada aconteceu. Não foi o fim do mundo, profetas não iluminaram o céu, não houve explosões e os computadores funcionavam normalmente. Era só eu, com uma garrafa inteira de champagne nas mãos, abraçando um monte de estranhos como se fossem irmãos separados no nascimento, alguns fogos de artifício fedidos e um monte de gente gargalhando. Logo depois todo mundo começou a descer do telhado e eu fiquei lá sozinha sentada, olhando as estrelas e pensando na vida. O reveillón sempre foi uma data que me deixou bastante melancólica, pensando sobre o sentido da existência. Mas aí  lembrei que havia uma festa rolando e que eu estava VIAJANDO! Além do mais, a champagne nas minhas mãos havia terminado. Na hora que me levantei me dei conta do tanto que eu estava passada. “Meu Deus, como vou descer sozinha?”, pensei. Agarrei um galho e tentei me equilibrar para descer, mas o maldito quebrou na minha mão e desci a porcaria inteira aos trancos, batendo toda a lateral do meu corpo na árvore, com o pé direito preso em algum galho. Cara na lama, pé pra cima, dor intensa. Foi assim que eu comecei o milênio. Clássico ou deprimente?
Copyrights@Alana Trauczynski: Recalculando a rota - Uma louca jornada em busca de propósito (2010)

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