- Que vista incrível!
Disse eu, em tom que poderia ser
sarcástico, já que a vista era um cruzamento de ruas com sinais piscando,
paredes pixadas e um posto de gasolina com frentistas sonolentos.
Mas realmente o panorama me
agradava. Uma sexta feira, a noite tão simples e inesperada onde dois pares de
pés vagantes pelas ruas de Botafogo se sentiam caminhando na lua. É a doce
sensação do estar presente, e encontrar um presente.
Ali entre um sorriso, uma
confidência e uma cerveja, o conforto não permitia nem um cruzar de braços e o
silêncio casual não incomodava. Estávamos cômodos. Não era a primeira nem a
ultima vez que essa sensação me permeava, mas, cada vez que ela retorna, toca
no miolo dos meus anseios, e tudo parece mais calmo.
Sob um céu sem lua nem estrelas,
eu soube quem eu era, olhando-me dentro do espelho do outro. Um olhar me
desenhou de um jeito inusitado e tão fácil de entender. Ilustrou-me mais pura,
sem tantos rabiscos desnecessários. Um esboço claro.
Satisfação, descoberta, sem muita
ânsia de querer mais. Suficiente. Ideal. Botafogo me apresentou novas facetas
de suas ruelas e de minhas ruelas também.
Sexta feira desenhada em altos e baixos relevos, a quatro mãos.
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