sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tudo é uma questão de ponto de vista...


     Era uma tarde chuvosa e ficar na praia já não fazia mais sentido. Foi quando então lotamos um carro e partimos rumo a cidade. A motorista era a Lu, ex-mulher do meu padrasto, porque eles sempre se frequentaram. Meu pai também estava naquele carro, assim como o Celso, a Gaia com a babá e o Lucas, nesta configuração pouco provável.
    Eu e o Lucas, com 6 e 4 anos, respectivamente, adorávamos andar no chiqueirinho, aquela parte do porta-malas em que você ainda pode conversar com as pessoas de dentro do carro. Não lembro bem por qual razão, ao nosso lado estava um balde vermelho, cheio de caixas abertas de sabão em pó, daqueles bem azuis. Este era o cheiro predominante dentro da Caravan banheirona, apesar do calor insuportável e do suor de todos.
     O morro era muito íngreme e a estrada tinha muitas pedras. Elas faziam aquele barulhão batendo embaixo do carro. Depois da dificultosa subida, veio a descida... Curvas, mais pedras, mais chacoalho, mais barulho. Então ouvi uma freiada, seguida de uma derrapada, e o meu mundo começou a girar. Os vidros estouravam ao meu lado, eu oscilava entre o teto, o chiqueiro e as esbarradas com o Lucas. 
     O sabão, que antes estava ali paradinho, começou a se espalhar por tudo, como se estivéssemos literalmente dentro de uma máquina de lavar roupas. Uma, duas, três voltas. Bendita da árvore que nos parou, uma arvorezinha de nada, nem 10 cm de diâmentro ela tinha! Graças a Deus, ninguém se machucou gravemente, foram só leves arranhões e pequenos cortes.
      Mas me lembro de me perguntarem, uns anos depois:
--- Alana, como é capotar? Qual é a sensação??
--- Ah, é meio engraçado. A gente vai parar no teto do carro e depois todo mundo fica azul.

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