terça-feira, 12 de julho de 2011

A entrevista perdida de John Lennon

Por: Oswaldo Miqueluzzi, colaborador honorário.




Em 5 de dezembro de 1980, três dias antes de ser assassinado, John Lennon concedeu uma entrevista para Johnattan Cott, editor-colaborador da revista Rolling Stones. A considerada “entrevista perdida” foi publicada na edição brasileira da referida revista de janeiro de 2011. Para o jornalista a conversa foi alegre, incrivelmente engraçada, inspiradora, destemida e subversiva.

Nela, Lennon reconhece estar mais velho, ver o mundo com olhos diferentes, mas ainda acreditar em paz, amor e compreensão. Foi ao ver a crítica de que “From Me to You” estava abaixo do nível dos Beatles que ele percebeu haver uma espécie de sistema no qual você entra na roda e tem de mantê-la girando.

Não viver de acordo com a ideia de outra pessoa de como deveríamos viver – ricos, pobres, felizes, infelizes, sorrindo, sem sorte, usando o jeans certo ou não usando o jeans certo é a grande lição que Lennon insiste em transmitir. Segundo ele, as pessoas passam muito tempo tentando ser outro alguém, o que leva a doenças terríveis, além de ser mais doloroso tentar não ser você mesmo do que ter medo.

Por isso, não aceitava ser o que as pessoas queriam que ele fosse: “Não estou reivindicando divindade, nunca reivindiquei pureza de alma, nunca aleguei ter as respostas para a vida. Só componho músicas e respondo a perguntas da forma mais honesta possível, e só – nem mais nem menos. Não posso atender às expectativas dos outros sobre mim porque são ilusórias”.

Para Lennon, a coisa mais difícil era brincar. Mesmo compondo uma música sobre o filho, considerava que teria sido melhor passar o tempo que gastara escrevendo a maldita canção jogando bola com ele.

Na entrevista, Lennon confessa o quanto era difícil escrever e o quanto sofria quando estava compondo. Considerava que quase toda música que escrevera havia sido uma tortura absoluta. Sempre as achava um lixo, exceto por umas dez músicas que os deuses lhe deram e que sairam do nada.

Não estava interessado em pequenos grupos de elite lhe seguindo ou reverenciando, mas em se comunicar da forma mais ampla possível, sem se tornar um maldito herói morto.

Lennon chamava a atenção para aquela imagem de ver uma girafa pela janela. As pessoas sempre vêem apenas pedaços dela, salientando que tentava ver o todo, não apenas sua própria vida, mas todo o universo, todo o jogo.

Mas o que achei mais supreendente foi sua afirmativa de não ter sido uma má escolha a sua opção por trabalhar, durante sua carreira, com apenas duas pessoas: Paul McCartney e Yoko Ono. "Se estou trabalhando com Paul ou Yoko é tudo para a mesma finalidade, seja lá o que for – autoexpressão, comunicação ou simplesmente ser como uma árvore: dando flores e murchando, dando flores e murchando", disse.

Florianópolis, 05 de junho de 2011.

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