quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mãe de 3

     Li a reflexão da Alana sobre ter ou não filhos e resolvi falar da minha. Sempre defendi a maternidade como uma coisa natural da vida que quer continuar. Só que os tempos mudaram e tem gente demais providenciando isso; o planeta já não aguenta mais.

    Tem também o desejo de ser mãe. Eu senti isso no meu primeiro filho. Parecia que a minha barriga estava vazia, faltava algo, era físico. Claro que logo engravidei, solteira ainda, sem nem saber o que estava assumindo. Tinha a minha vida para viver e me "virei nos 30" para conseguir incorporar essa responsabilidade. Nenhum drama, deu tudo certo. Fui morar no exterior, acompanhando o maridinho na SUA vida e essa criança foi uma companhia maravilhosa. Os outros 2 filhos vieram na continuidade. Tenho um menino, quero uma menina. Veio. O terceiro veio assim, no susto, e foi uma grande benção.Mas eu nunca soube o que estava fazendo... simplesmente foi tudo acontecendo.

     Amo meus filhos, não me arrependo de nada. Mas hoje em dia, se eu estivesse nessa fase da vida, repensaria. Ter filho é uma alugação integral da vida. A gente se diverte também, criança trás alegria. Das melhores lembranças que tenho desse passado de filhos pequenos era quando eu ia dormir, ou chegava de algum lugar, e passava no quarto de cada um  ouvindo as respiraçõezinhas, sentindo o cheirinho. O ninho cheio, tudo em paz. Parecia que eu estava no caminho certo, que tudo era como tinha que ser. Ou quando eu descansava, depois do almoço na praia, sempre ouvindo seus gritos de alegria na água, brincando. Era plenitude o que eu sentia. Estavam alí. Tudo em paz!
A presença deles na minha vida me trazia paz.

     Depois veio a fase chatíssima da adolescência, onde se é rejeitada 20 vezes por dia, mas eu nem posso reclamar. É previsível, eu sabia, entendia... claro que o coração doía. Há tão pouco tempo lutavam para estar de mão dada comigo, quando saíamos, e eles eram 3. Tínhamos que fazer turnos.

    Começa a fase, então, de abandonar o ninho. Aí a barra pesa! Já não dormes mais tranquila, um está aqui e outro na Conchichina. Não sabes mais o que estão fazendo, pensando, sentindo, a não ser o que eles acham conveniente revelar. E sempre é muito pouco. Começas a ser afastada da vida deles. Mas... logo agora? Quando já não dão mais trabalho físico e as coisas poderiam ficar tão interessantes! Viver como adultos com pessoas que se amam e tem todo um passado comum?

     Entram novos membros na família. Que delícia! Mais amor chegando... Casamentos, namoros, filhos, NETOS! Tudo de bom! Mas não é bem assim. Tu já não és mais importante para eles. Têm a sua vida, impõem uma distância aparentemente natural, só que dolorosa para quem se acostumou a sentir paz quando a família estava junta.

     As diferenças entre os irmãos se acentua, com a entrada de novos amores e aquela célula única se subdivide. Está contida lá, mas já não tem mais contornos. Acabou! O ninho ficou vazio! Vire-se, mamãe... fizeste a tua parte, agora larga do pé. Logo, logo, virarás um peso (espero não ter que passar por isso).

Avaliando, então, claro que em poucas palavras, (na verdade isso renderia um livro) EU NÃO SEI MAIS DE NADA!

É doar-se realmente sem esperar nenhum retorno. É ser considerada culpada ou, pelo menos responsável, por tudo que der errado na vida deles. O que der certo é mérito próprio. Depois aprender a ser só, a viver e ser feliz sem alguns órgãos vitais.

Gente, eu estou falando como mãe. Como terapeuta tenho a certeza da natureza das coisas e também que a vida não é o Canto Grande, sempre calmo e em paz. Muitos tsunamis, ventanias e arrebentações. Com ou sem filhos, viver é aprender a ser feliz "apesar de" tudo. É desenvolver-se como ser, aproveitando as dificuldades como molas propulsoras. Tudo isso eu sei.

Mas agora, aqui, sem nenhum compromisso com conversas edificantes (como é a nossa proposta para esse blog) e sem o rótulo de terapeuta, falo como mãe. Não vou dizer aquela famosa frase feita, que é padecer num paraíso, porque não é. Tem momentos lindos, inesquecíveis. Mas tem que ter coração valente, senão é barra pesada.

Para dar um tom mais engraçado, vou terminar com a frase do famoso psicanalista Gaiarça, que dizia: "Metade da nossa vida foi estragada pelos nossos pais e a outra metade pelos nossos filhos".

Olha...

Um comentário:

João disse...

Parabéns " Mãe Tania " , esse texto me fez refletir um pouco mais sobre a minha mãe...tenho um admiração enorme por minha mãe e lendo isso entendo mtas atitudes em relação aos filhos. Ser mãe tarefa dificil... Mas oq vc disse faz total sentido, mãe ou pai " é doar-se realmente sem esperar nenhum retorno "

Bjos e boa semana!!