domingo, 5 de junho de 2011

Auto-biópsia em vida...

Vou aceitar o que sugeriu Alana e fazer minha biópsia. Me imagino morta, no caixão, a família ao lado e eu no juízo final. Feito por mim mesma, naturalmente, não há mais ninguém interessado em julgamentos nesse momento.

O que vejo: um ser humano com defeitos e qualidades. Amada por alguns, os que de verdade a conheceram e indiferente aos que nunca souberam quem era. Foi boa, generosa, amorosa com seus amigos. Mãe controvertida, já que amava muito aos seus filhos mas não compactuava com seus desatinos. Estava sempre alí, presente para eles, mas também tinha sua vida própria.

Teve dois incríveis companheiros. O primeiro amor, imprescindível na sua vida, para que fosse quem se tornou e pai dos seus filhos. Grande parceiro no desbravamento da vida. Encorajou-a, estimulou-a e passaram os dois por mal bocados por abrirem portas tão ousadas. Se amaram muito e esse sentimento nunca se acabou, só mudou de forma.

O segundo, parceiro da paz, companheiro de vivências de forma incondicional. Não estava nunca em jogo a separação. Tudo que aconteceu em suas vidas, e os acontecimentos foram muitos, eram vividos e sofridos ou divertidos em dupla. Vida plena de afinidades, facilidades. Nunca foi difícil viver com ele. Pelo contrário, só adiantava a sua vida. Amor maduro e saboroso!

Sempre fez o que quis, disse o que pensava; claro, não agradou a muitos. Mas pagava esse preço por se sentir autêntica, não sabia ser de outro modo. Nem queria. Sagitariana assumida e contente com seu estilo. Não tinha medo do julgamento dos outros. Aprendeu cedo a se livrar dessa necessidade de ser aceita por todos. Só queria alguns, os de verdade, que sabiam quem ela era. Se sentia bem assim.

Defeitos tinha muitos... nem sei se muitos, mas alguns. Trabalhou e corrigiu vários, lidou com outros até o fim. Só nunca escondeu-os, sempre estiveram encima da mesa.

Amava, adorava seus netos. Os que conheceu e os que viriam depois... sempre pensou nessa continuidade com muita alegria. Se sentia realizada por ter formado uma família que caminharia no futuro. E ela estaria alí com eles, num sorriso, numa percepção, um olhar...

Teve como ponto central a busca de si mesma, o conhecimento da vida e o contato com o transcendente. Quis sempre ir além, libertar-se das amarras dos condicionamentos e unir-se ao absoluto. Em nome disso fez tudo que fez. Ousou liberar-se, foi rejeitada pelo bando, depois chamada pelo bando para ensinar o caminho.
Corajosa ela era. Verdadeira também. Amorosa mais que tudo. Não adocicada; amava porque entendia o outro. Via em si o que havia em qualquer um. Era fã da humanidade.


Uma mulher que fez o que podia. Descansa em paz. Fez as pazes com suas contradições e encheu seu coração de amor!

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