Ousar Dizer
Por trás das suas ideias do que é certo e errado existe um campo... Me encontre lá! - Rumi
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Amor perene
Aprendi que sou amada eternamente independente do que seja ou faça. Sou amada sem condições, total e completamente. Esse amor me trouxe à este mundo e me levará a outros.
E você tem a mesma sorte. É amado absolutamente.
Algo perene e imutável, como o Amor Divino, soa inviável ou incabível nesse planeta, onde as pessoas se matam ou morrem de fome. Onde a natureza egóica do ser já vem com medos pré-concebidos. Mas o amor incondicional não é limitado como a manifestação de amor humano, transcende qualquer julgamento e limite.
Porém, ser amado e viver uma historia de amor do jeito que acreditamos são duas coisas diferentes. Aceitar o amor, e vivê-lo, receber a felicidade e o êxtase que uma relação pode nos trazer, é uma escolha. E Aquele que nos ama, não desiste, está sempre disponível. Nosso coração que precisa abrir as portas. O amor de Deus não invade, não entra sem ser convidado. Você precisa abrir as portas. E é através dele que histórias de amor real são vividas.
Porque temos desinteresse ou medo de viver o amor? Existem muitos “talvez” para essa resposta - Talvez eu não queira abrir mão do sofrimento e da ilusão, talvez nunca ninguém me explicou sobre amor divino, talvez as coisas mais divertidas da minha vida não estejam relacionadas nem com amor nem com Deus. Mas essa ultima alternativa não existe. Tudo está em Deus. Até as sombras e ilusões que criamos para experienciar a dualidade e fingirmos que estamos separados Dele.
Nossas tentativas de afastamento do Amor Divino são ingênuas e infantis. Mas como qualquer ação, essas tentativas de separação podem gerar dor e consequências para sua experiência como alma individual. Tudo faz parte do mesmo complexo divino. A forma das manifestações, sua vibração e sua intenção é que mudam. E assim podemos escolher se queremos sentir o gosto do céu ou do inferno. Tudo é Sua manifestação, que de tão benevolente, nos permite descobrir aos poucos (seja em uma vida ou seja em muitas) sobre a Verdade e sobre o Amor.
A matrix dual que criamos e sustentamos dentro da Criação, também é cheia de falsas verdades, medos e prazeres, que permitem a alimentação desse sistema relativo, mais virtual do que real.
Mas, como toda criança cresce, todo espírito - se quiser - amadurece. Acorda a consciência. Deixa de acreditar tão plenamente nas brincadeiras dessa vida. Pode seguir brincando, mas tem a chance de entender sobre o Criador disso tudo. Todo espírito tem a chance de olhar para a luz e lembrar-se de si mesmo. E só a partir desse momento, ele entende sobre seu Ser.
O Ser real, vive e quer viver no amor perene de Deus.
sábado, 3 de maio de 2014
VINDE A MIM OS LOUCOS, PORQUE É DELES O REINO DOS CÉUS (E DA TERRA!)
Ser normal é um saco e quase todo mundo concorda, mas tem
gente que insiste (pelo menos em parecer). Outros descobrem a maravilha e o
poder da autenticidade, de ser diferente, de não seguir a boiada. E cada vez mais este é o valor que vem gerando
resultados bem sucedidos e despontando no mundo dos negócios. Por quê? Por
que a criatividade é altamente ligada a um certo nível de loucura, e quase tudo
o que chamam de loucura deveria ser considerado medição de alta sanidade.
Meu papo aqui é com você que é frequentemente chamado de
louco(a). Se identificou? Pois este é o meu brado retumbante, meu grito
penetrante, um feixe de luz tipo o do Batman, só que vazada a palavra “crazy”:
um sinalizador vermelho no breu do seu oceano. Eu quero ser sua amiga! De todos
vocês que são considerados fora da curva, insanos, pirados, alienados,
subversivos. Todos os que pulsam com a vida, que riem a toa, que têm sangue
jorrando nas veias a milhão, que se mudam para a praia, que dançam como se
ninguém estivesse vendo, que sentem um gêiser interior de energia borbulhante
deixando muito claro que existe uma missão só sua nessa vida. É com esse tipo
de gente que, cada vez mais, eu quero me relacionar.
Existe uma coisa chamada ENERGIA VITAL, que é a mesma
coisa que move o universo: e você está cheio, impregnado dela. É o que lhe
deixa “louco” porque no final você não sabe bem direito o que fazer com ela.
Então você faz o que os “normais” chamam de MUITA CAGADA: se arrisca nos
esportes radicais; toma porres homéricos e acorda em lugares estranhos, compra
passagens só de ida para o raio que o parta, muda de profissão 5 vezes por ano,
toma banho de cachoeira pelado, larga seu emprego estável para compor uma
banda, manda o pentelho do seu chefe ver se você tá na esquina, gira sozinho na
areia da praia, usa o dinheiro do carro para fazer uma viagem, deixa de comprar
um gadget novo para fazer um curso, usa
drogas, muitas drogas e todas as outras merdas que estão vindo na sua cabeça
agora. Que você faz!
Minha novidade para você é que eu acho que você tem um poder
incrível de mudar o mundo se der um rumo positivo para este fluxo. Só quem tem
este nível de energia vital que você está desperdiçando como se não fosse o seu
bem mais precioso tem realmente a capacidade de fazer algo inusitado que pode dar
um novo curso a nossa história. Alguém preocupado com a sua imagem perante a
sociedade tende a nunca fazer nada grandioso. É impossível ser altamente
criativo e plenamente aceito em todos os estágios. É por isso que você é a
minha esperança. Eu consigo ver um super santo por trás deste pecador que você
finge ser. Você que tem todas as histórias mais cabeludas do mundo para contar,
posso falar? Você não me choca nem um pouco. O que me choca é o fato de te ver
aí parado sem produção, sem ação, vendo a vida passar. Posso te dizer uma
coisa? Você não tem nada a perder! Seu filme já está tostado.
Eu sei o quanto dói estar aí, e também sei o quanto dar
pequenos passos em direção ao nosso destino pode trazer de felicidade. Você
precisa melhorar a sua capacidade de se conectar com a consciência divina (ou
universal, se você não acredita em Deus!). Existe uma razão para você ser
assim. Algo de muito incrível quer se revelar através de você. E ao invés de se
sensibilizar e escutar essa voz aí dentro, você fica perdendo seu tempo se
sentindo um rejeitado, um perdedor, um abnegado, um diferentão que não
encontrou seu caminho. Mas, desculpa, eu não compro a sua bullshit. Eu sinto uma empatia enorme por você e te entendo
plenamente. Mas tem certeza que você está fazendo todos os esforços rumo a isso
que sente que deveria revelar? Está utilizando todas as ferramentas e
buscando todo o alimento necessário para a sua empreitada? Se tivesse, eu já
saberia seu nome. Porque o nosso potencial é ilimitado quando a gente descobre
o que tem pra entregar. Seja através da arte (mostrar para o mundo o que você
cria), do compartilhamento de ideias (escrever um livro, começar um blog), do
empreendedorismo (fazer acontecer aquela ideia genial abrindo uma empresa com
novos paradigmas e criando suas próprias regras), você precisa se colocar. Nós
temos que nos afastar dos significados convencionais que os “normais” dão para
as coisas e parar de lutar contra o sistema. Para mudar algo, é muito mais útil
criar novos modelos que deixem os antigos obsoletos (Buckminster Fuller). E
este job é seu e meu. Você aí estagnado
na sua zona de conforto é um grande desperdício. Vem ni mim.
Bora criar um mundo novo?
Já dizia Kerouac...
“…eu me arrastava na mesma direção como
tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me
interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos
para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao
mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas
queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo em
constelações…”
segunda-feira, 28 de abril de 2014
QUAL É O SEU PROPÓSITO DE VIDA???
Já foi o tempo em que o que importava mesmo era o número de diplomas que você
guardava no armário, os MBAs nas universidades carésimas e a quantidade de
idiomas que você desenrolava. Não que tudo isso tenha deixado de ser
importante, mas hoje em dia para ingressar em algumas universidades top, como a
Singularity University no Vale do Silício (uma parceria do Google e da Nasa
para criar e treinar os empreendedores do futuro) todos estes quesitos estão
sendo pulados, partindo para uma única fodástica pergunta-chave: Qual é o seu
propósito de vida? O que veio aqui pra fazer? Que inovação teria muita paixão
em entregar para o mundo?
E é aí que
dá diarreia em muita gente e a vontade de dizer: espera um pouquinho
que eu vou ali me matar a já volto. Porque quase ninguém tem a resposta. E
você? Já pensou nisso?
Eu venho pensando desde que me entendo por gente (isso foi mais ou menos aos 17
anos, antes disso eu era uma ameba no piloto-automático), o que me torna uma
especialista no assunto (que na verdade é uma ex-perdida de carteirinha que
demorou pra cacete para se encontrar!), o que me dá moral pra falar. Eu passei
13 anos viajando o mundo em busca desta resposta, e esta jornada me rendeu um
livro.
Para dissipar esta nuvem confusa e disforme, eu precisava primeiro entender
direito essa parada, então criei minha própria definição de propósito: a
realização plena sendo estendida aos outros, ou seja, ajudar e/ou inspirar
outras pessoas através de uma coisa que nos realize plenamente.
Fodeu de vez?
Pois bem. Parte do meu propósito é ajudar outras pessoas a encontrarem os seus,
e é isso que estarei fazendo aqui como colaboradora do Nômades Digitais:
tocando fogo no seu cerebelo!
E como a definição do nosso propósito está diretamente
relacionada à utilização dos nossos dons e talentos, é através da escrita que
me colocarei, já que é o que me motiva e o que retroalimenta minha
criatividade, levando a pergunta número 1 do seu autoquestionário:
O que te daria um tesão enorme de fazer, mesmo se tivesse
ganhado na mega sena?
Essa é uma resposta legal de encontrar, porque cada vez mais o que fará
diferença não será a capacidade de realizar uma tarefa e sim a sua paixão e exclusividade
em realizá-la. Isso incluirá suas experiências de vida e toda a sua cultura. Cada
pessoa tem uma combinação muito única de vivências e aprendizado. Portanto,
cada um de nós tem algo único para trazer ao mundo. Se você não está trazendo,
quem está perdendo com isso sou eu, é você, a humanidade como um todo.
Não precisa ser nada grandioso! Eu já vi uma pessoa
inspirando os outros ao varrer o chão. Mas é muito importante que cada um de
nós encontre o que é esta “faísca” e qual a forma mais inusitadamente criativa
de trazê-la a vida. Por quê?
Porque
a gente será bem mais feliz assim e o mundo será um lugar incrivelmente mais
agradável, entusiasmado e subversivo.
E aí?
Tá a fim de viver neste mundo? Eu super estou. E é por isso que fico embaçando
a vida dos outros com este tipo de questionamento. Tenho um pouco de medo que a
gente perca muito tempo jogando videogame na vida, reagindo aos monstros, espadas
e espinhos que aparecem na tela, sem muito controle sobre o que virá depois.
Dormir e acordar todos os dias sem propósito, sem tesão, sem brilho no olhar,
esperando que seja finalmente o dia do bônus-game, aquele que é só alegria.
Minha boa nova pra você é que já existe um monte de gente
fazendo da sua realidade inteira um bônus-game, tipo candy crush onde só tem
coisa colorida e doce. Estas encontraram o seu propósito, ou estão ao menos
buscando e se divertindo na estrada. Qual é o caminho? Consciência,
criatividade e a ação.
Precisamos realizar esforços em direção a tudo o que nos
tire da ignorância e nos coloque mais próximos de nós mesmos. Para isso devemos
nos cercar de pessoas, práticas, hábitos, conhecimentos, livros, terapias e
pensamentos que nos alimentem positiva e criativamente. Os caminhos são
inúmeros, começando pelo autoconhecimento. Mas podemos escolher o que nos faz
sentido, e depois adotar uma postura proativa, de responsabilidade perante o
todo.
Somos 100% responsáveis pela co-criação do mundo onde
queremos viver, e é o engajamento nesta co-criação que gera ressonância
positiva do universo. Tudo aquilo que conseguimos imaginar nos nossos sonhos
mais loucos é uma possibilidade REAL, algo que pode vir a ser. O rumo que damos
à vida é infinito em possibilidades. Quanto mais gente tiver visualizando
coisas legais, maiores as chances de vivermos em um mundo legal e resolvermos
criativamente os desafios que nos assolam. Em qual deles você pode contribuir,
simplesmente sendo você mesmo? Esta é a resposta que irá revelar o que existe
de mais genuíno em você. Este é o seu destino!
Longe
de mim botar pressão em responder isso (eu sei muito bem o que é estar
perdido!), mas estou aqui para fazer da busca algo que te dê esperança em um
mundo melhor e mais brilho no olhar! Eu também ainda estou no caminho. Vamos
juntos?
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Ativismo quântico: o retorno à essência
Depoimento sobre o
curso do Dr. Amit Goswami, P.h.D, cientista quântico, realizado em São Roque
pelo Instituto Aleph, de 10 a 13 de abril
Adorei o
convite do Nowmastê para escrever essa matéria porque voltei deste curso
altamente inspirada, sensibilizada e entusiasmada (do grego “em theos”, que
quer dizer “com Deus dentro”). Muito além de conceitos de partículas, ondas e
comportamento dos elétrons, o que eu aprendi foi a abrir meu coração para o
mundo das infinitas possibilidades. Possibilidades estas que se encontram em um
domínio fora de tempo e espaço, onde só o que existe é a Consciência Única, da
qual somos todos faíscas, de onde viemos e para onde voltaremos (dois coelhos
em uma só cajadada!)
O workshop
teve duas vertentes: uma bem cerebral, científica e pragmática, proferida pelo
Amit. Só os muito fortes entenderam tudo, vou confessar que eu precisaria
escutar cada frase umas cinco vezes para absorver. A outra vertente era total
coração, passada por sua esposa Uma Krishnamurti, que nos emocionou com os
olhares, danças, aulas de yoga e meditação que aconteceram ao longo do processo
para amenizar o fluxo de conteúdo. Ela me levou às lágrimas diversas vezes por
ser a personificação de todos os conceitos que estavam sendo passados,
alertando a todos para a possibilidade de que SIM, é possível SER aquilo que
pensamos.
Todo mundo
vira super fã da tal da física quântica porque filmes como “O Segredo” nos
disseram que existe uma fórmulinha mágica para manifestar nossos desejos, mas
esqueceram de um pequeno detalhe: para que desejos se manifestem, eles precisam
estar alinhados com os objetivos desta Consciência Única, que sabe muito bem
para onde está indo e o que precisa manifestar para chegar lá. Ou seja, se a
sua Ferrari não fizer parte do plano você pode fazer seu joelho sangrar de
tanto ajoelhar pedindo, mas ela não virá. Em palavras simples: existe um plano
divino para a sua vida e parte deste é transcender o desejo pela Ferrari.
Talvez aí ela até venha, mas não fará diferença nenhuma para você. Se for mais
fácil para que você entenda isso através da abundância, ela virá antes. Esta
opção também é sua. Mas em nenhuma das opções a Ferrari é o objetivo final.
O conceito de
que nós criamos aquilo que experienciamos já é sabido por muitos e continua
sendo verdadeiro de acordo com os princípios da física quântica, o olhar do
observador influi sobre o objeto observado. Só que nós fazemos parte de um
circuito interligado e grande parte das emoções negativas que sentimos nem são
nossas, mas as manifestamos por fazer parte deste circuito. É por isso que o
nosso DEVER é minimizar e eliminar os vírus e interferências que foram baixados
na nossa CPU, porque quando estas interferências forem eliminadas, nossos
“desejos” passam a ser também o desejo da Consciência Única (chame de Deus, se
quiser!). E aí é poder real, sem limites!
Qual é o
caminho? A consciência. Precisamos realizar esforços em direção a
tudo o que nos tire da ignorância. Para isso devemos nos cercar de pessoas,
mestres, práticas, hábitos, conhecimentos, livros, terapias e pensamentos que
nos alimentem positivamente. Os caminhos são inúmeros. O importante é só que
cheguem ao mesmo lugar, a essência de todas as religiões e caminhos
espirituais: a Verdade. Também precisamos colocar nossos conhecimentos em
prática de forma pragmática, adotando uma postura DOBEDOBEDO (FAZER, SER,
FAZER, SER), como o próprio Amit coloca. Isso inclui realizar o propósito maior
da nossa existência, nossa missão neste planeta.
Somos
responsáveis pela co-criação do mundo onde queremos viver. Tudo aquilo que conseguimos
imaginar nos nossos sonhos mais loucos é uma possibilidade REAL, algo que pode
vir a ser. É por isso que é muito mais útil nos concentrarmos em pensamentos
positivos e nos proteger contra os negativos, de qualquer fonte que provenham.
Acreditar na negatividade é uma opção nossa, feita a cada momento. A
negatividade é simplesmente uma falha na conexão com o que é real: Deus está em
tudo. Se o seu roteador está meio tombado, coloque atenção sobre ele, porque o
sinal no planeta Terra está excelente e o wi-fi do universo está pulsando por
você, desejoso de que sua vida venha a ser exatamente como a sua imaginação
mais ousada.
Claro que
esta é uma interpretação minha, de tudo o que ouvi e vivi. Que o Amit me perdoe
se eu estiver dando bola fora. Não sou mestre, nem iluminada, portanto só pegue
o que alimentar seu coração. Eu sou só mais uma pessoa fazendo esforços para realizar
minha missão no universo, escrever é uma das minhas ferramentas. Quero convidar
você a trazer ao mundo aquilo que tem de mais genuíno e ser o mais
essencialmente você possível. Assim, nos encontraremos em breve, porque a sua
essência é também a minha, e neste plano não existe espaço. SOMOS UM. Namastê!
Alana Trauczynski é autora do livro “Recalculando a rota: uma
louca jornada em busca de propósito”. Para conhecê-la melhor, curta sua fanpage
no facebook:
Para saber mais sobre os cursos de Amit Goswami e saber as
datas que ele vem para o Brasil, curta a fanpage do Instituto Aleph:
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
O homem sem tempo
Ele era um homem sem tempo. Sem tempo por não pertencer nem à sua época, nem à nenhuma.
Era guiado pelo gosto. Gosto estudado sobre o que lhe cabia bem. E usava da contemporaneidade para brincar de vaidades e aprender verdades.
Mas não era vitimado pelo tempo em que se via agora, e que nem era seu.
Ele gostava de ligações curtas e citações velhas.
E tinha manias velhas aprendidas em outra vida.
Gostava de desafiar as prisões confortáveis e impertinentes onde as pessoas se aconchegam e se sentem em comunhão com a vida. Todos presos por escolha ou ignorância. Não sabia ele, por mais que tentasse saber, o que significava a introdução das frases reclamatórias dos que se creem velhos - No meu tempo... Que tempo? Existe faixa etária onde o tempo é seu, e depois, mesmo vivo, morre-se e perde-se o tempo? Passa o seu tempo a ser do outro? Como uma herança arrancada em vida? Revoltados com o roubo do que lhes pertenceu um dia, reclamam e clamam por "seus tempos".
Este homem era atemporal. Claro que, por ainda fraqueza da natureza, suas células obedeciam o ciclo vicioso do nascer, crescer, morrer. E isso o mascarava como objeto temporal. Mas era só sua máscara. Também seu brinquedo do hoje.
Seus relógios lhe serviam como adorno. Pesavam em seu punho e paredes como objetos de arte mal entendidos. E as horas, as horas ele respeitava como maneira de proteger sua liberdade do tempo, pois, seguindo as horas dos homens e seus compromissos, não precisava das explicações. E mesmo nas horas dos homens, o tempo e ele se entendiam magicamente, sem que o falso controle lhe quitasse a sensação da vida, dona verdadeira do passar das horas.
O homem fazia muito, e gostava de olhar sua cronologia. Era esforçado pra fazer a verdade colar-se em medidas mentirosas. Mas, como tudo que é em vão, pode ser passatempo divertido já que o tempo não passa, pois é sem fim.
E ele sabia, pois quando dormia via, que passeava em todos os tempos. Trazia suas coisas insólitas de uma vida à outra, que corriam paralelas entre o Sol e a Lua. Gostava mais de Sol. Mas o sair do Sol, dava-lhe a noite. E nela abria dentro dos olhos dormidos, os olhos do outro tempo - o tempo eterno e sem idade.
Ele escorregava na areia da ampulheta que media a existência. E pulava sobre os ponteiros de seu relógio parado.
Gostava do agora. Mesmo não sendo dele, cabia ali os seus gostos, nutria ali suas vaidades, e aprendia, com esse tempo todo que não tinha, algumas verdades - absolutamente relativas, relativamente absolutas, as suas verdades.
Era guiado pelo gosto. Gosto estudado sobre o que lhe cabia bem. E usava da contemporaneidade para brincar de vaidades e aprender verdades.
Mas não era vitimado pelo tempo em que se via agora, e que nem era seu.
Ele gostava de ligações curtas e citações velhas.
E tinha manias velhas aprendidas em outra vida.
Gostava de desafiar as prisões confortáveis e impertinentes onde as pessoas se aconchegam e se sentem em comunhão com a vida. Todos presos por escolha ou ignorância. Não sabia ele, por mais que tentasse saber, o que significava a introdução das frases reclamatórias dos que se creem velhos - No meu tempo... Que tempo? Existe faixa etária onde o tempo é seu, e depois, mesmo vivo, morre-se e perde-se o tempo? Passa o seu tempo a ser do outro? Como uma herança arrancada em vida? Revoltados com o roubo do que lhes pertenceu um dia, reclamam e clamam por "seus tempos".
Este homem era atemporal. Claro que, por ainda fraqueza da natureza, suas células obedeciam o ciclo vicioso do nascer, crescer, morrer. E isso o mascarava como objeto temporal. Mas era só sua máscara. Também seu brinquedo do hoje.
Seus relógios lhe serviam como adorno. Pesavam em seu punho e paredes como objetos de arte mal entendidos. E as horas, as horas ele respeitava como maneira de proteger sua liberdade do tempo, pois, seguindo as horas dos homens e seus compromissos, não precisava das explicações. E mesmo nas horas dos homens, o tempo e ele se entendiam magicamente, sem que o falso controle lhe quitasse a sensação da vida, dona verdadeira do passar das horas.
O homem fazia muito, e gostava de olhar sua cronologia. Era esforçado pra fazer a verdade colar-se em medidas mentirosas. Mas, como tudo que é em vão, pode ser passatempo divertido já que o tempo não passa, pois é sem fim.
E ele sabia, pois quando dormia via, que passeava em todos os tempos. Trazia suas coisas insólitas de uma vida à outra, que corriam paralelas entre o Sol e a Lua. Gostava mais de Sol. Mas o sair do Sol, dava-lhe a noite. E nela abria dentro dos olhos dormidos, os olhos do outro tempo - o tempo eterno e sem idade.
Ele escorregava na areia da ampulheta que media a existência. E pulava sobre os ponteiros de seu relógio parado.
Gostava do agora. Mesmo não sendo dele, cabia ali os seus gostos, nutria ali suas vaidades, e aprendia, com esse tempo todo que não tinha, algumas verdades - absolutamente relativas, relativamente absolutas, as suas verdades.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Eu, Lóri e eu (agradecimento à C.L.)
As gaivotas sobrevoavam a cidade, às 3 da tarde. Descobri o voo pela projeção da sombra na parede branca do prédio na esquina. Projeção bem nítida, qualidade do sol forte das 3 horas.
Era tão lindo. Parecia feito pelo homem. Mas acho às vezes que os homens só enxergam as sombras das gaivotas quando eles mesmos projetam. Assim, sombras de um vôo real, passam tão desapercebidas. É a óbvia beleza discreta da natureza.
Essas sombras, por serem sombras, me deram muita vontade de falar. Mas falar pra dentro. Era só pra dentro que eu tinha palavras. Eu temia falar pra fora. Qualquer barulho meu ameaçava a retomada da mudez interior.
Rezei então para que o telefone não tocasse. Rezei para que o porteiro não tivesse recados. Rezei para chegar em casa sã e muda. Como moro no oitavo andar, subi pelas escadas, evitando qualquer risco de um "boa tarde" obrigatório no elevador. Eram muitos andares, cada andar, um ameaça ao silêncio.
Outra coisa que temia, quando senti o verão quente lambuzando minha roupa, era o sono. A preguiça. A pressão baixa que o calor me dá. Essas coisas são mais fáceis de vencer quando se fala pra fora, mas podem engolir uma pessoa que fala pra dentro. Por garantia, tomei um expresso com cacau e açúcar. Senti então minhas pálpebras seguramente suspensas, sem riscos de tombarem sobre meus olhos.
Agora estava pronta e ansiosa para começar a falar para dentro. Café tomado, em casa, sozinha. Mas, e se eu cansasse do diálogo-monólogo? Sei que o assunto não acaba quando assim se fala, e é essa a questão - falar para dentro é como limpar o mar com uma peneira. Não se acaba nunca.
Se eu cansasse de me peneirar, já sabia um algo/alguém com quem conversaria em silêncio. Com quem, aliás, tenho trocado muito: Lóri.
Seus pensamentos, estáticos e impressos em páginas pequenas e gastas, eram tão vivos e dinâmicos para os ouvidos dos meus olhos. Eu a escutava pensar. E o melhor é que eu sabia, eu sei, que ela escuta todas minhas reações e conselhos. Nem sempre os segue, mas, às minhas perguntas, responde na frase seguinte, já escrita antes de eu perguntar. As respostas existem antes das perguntas. As perguntas só existem porque existem respostas. Só se abrem caminhos porque existem destinos, não é? Pois é, é.
Lóri, que não precisava de mim, me escuta porque somos de algum modo, modo esse que ainda não identifiquei, somos de algum modo parecidas. E ela sabe que eu conheço seu Ulisses, e que sei o modo como ele a tratava.
Falar com Lóri era como falar pra dentro, só que com outro nome. E precisando usar os olhos. Também não cansava tanto quanto um monodiálogo, porque Lóri sempre fazia mais esforço que eu. Ela sabia sofrer melhor. Por isso, ela cansava mais.
As vezes eu sentia seu ar cansado e a deixava. Mas sempre que eu voltava ela já estava a todo vapor falando consigo/comigo, muda.
O telefone tocou. E eu nem cansei ainda de falar. Atendi, porque não poderia não atender. Mas atendi como outra pessoa. Usei outra voz, com o mesmo tom da minha. Mas era uma voz tão rasa que não calou a voz de dentro, que ecoa na profundidade.
Gostei de usar a voz rasa. Ela foi útil, útil como tudo que vem do ego. Útil para que eu não me gaste nas inutilidades.
Essa voz me deixou alegre. Senti que posso o que achava que não poderia.
Alegria boba e boa, dessas que se encaixam em qualquer lugar. Alegria daqui, que me desobriga a correr para o sol porque faz sol, ou arrumar a cama porque é dia.
Fiquei alegre também de ter um eu para tomar um café trocando amenidades.
A eu com quem converso me desperta muito respeito e hospitalidade. Gosto de tê-la (ter-me) aqui. Fico mais educada, quero causar boa impressão, para que suas (minhas) visitas sejam menos raras.
Mas mesmo gostando, me despeço. Tenho que falar com a Lóri. Não que eu tenha cansado da minha própria cia, mas é que quero tudo, sabe? Tenho muito o que falar e não me arrisco a entediar meu eu com meu maremoto de palavras jogadas mar adentro. Depois serei eu que terei que peneirar. E isso deixaria uma má impressão, para a "mim" que sou eu também.
Agora é a hora da Lóri. Esperarei a cafeína e o sol baixarem um pouco. Senão, falo demais, devolvo cada pensamento seu com filosofias furadas e sem fim. Quero falar pra dentro, mas falar devagar. E quero te escutar, Lóri. Quem sabe eu te responda por escrito, pra registrar nossa mudez. Quem sabe.
Era tão lindo. Parecia feito pelo homem. Mas acho às vezes que os homens só enxergam as sombras das gaivotas quando eles mesmos projetam. Assim, sombras de um vôo real, passam tão desapercebidas. É a óbvia beleza discreta da natureza.
Essas sombras, por serem sombras, me deram muita vontade de falar. Mas falar pra dentro. Era só pra dentro que eu tinha palavras. Eu temia falar pra fora. Qualquer barulho meu ameaçava a retomada da mudez interior.
Rezei então para que o telefone não tocasse. Rezei para que o porteiro não tivesse recados. Rezei para chegar em casa sã e muda. Como moro no oitavo andar, subi pelas escadas, evitando qualquer risco de um "boa tarde" obrigatório no elevador. Eram muitos andares, cada andar, um ameaça ao silêncio.
Outra coisa que temia, quando senti o verão quente lambuzando minha roupa, era o sono. A preguiça. A pressão baixa que o calor me dá. Essas coisas são mais fáceis de vencer quando se fala pra fora, mas podem engolir uma pessoa que fala pra dentro. Por garantia, tomei um expresso com cacau e açúcar. Senti então minhas pálpebras seguramente suspensas, sem riscos de tombarem sobre meus olhos.
Agora estava pronta e ansiosa para começar a falar para dentro. Café tomado, em casa, sozinha. Mas, e se eu cansasse do diálogo-monólogo? Sei que o assunto não acaba quando assim se fala, e é essa a questão - falar para dentro é como limpar o mar com uma peneira. Não se acaba nunca.
Se eu cansasse de me peneirar, já sabia um algo/alguém com quem conversaria em silêncio. Com quem, aliás, tenho trocado muito: Lóri.
Seus pensamentos, estáticos e impressos em páginas pequenas e gastas, eram tão vivos e dinâmicos para os ouvidos dos meus olhos. Eu a escutava pensar. E o melhor é que eu sabia, eu sei, que ela escuta todas minhas reações e conselhos. Nem sempre os segue, mas, às minhas perguntas, responde na frase seguinte, já escrita antes de eu perguntar. As respostas existem antes das perguntas. As perguntas só existem porque existem respostas. Só se abrem caminhos porque existem destinos, não é? Pois é, é.
Lóri, que não precisava de mim, me escuta porque somos de algum modo, modo esse que ainda não identifiquei, somos de algum modo parecidas. E ela sabe que eu conheço seu Ulisses, e que sei o modo como ele a tratava.
Falar com Lóri era como falar pra dentro, só que com outro nome. E precisando usar os olhos. Também não cansava tanto quanto um monodiálogo, porque Lóri sempre fazia mais esforço que eu. Ela sabia sofrer melhor. Por isso, ela cansava mais.
As vezes eu sentia seu ar cansado e a deixava. Mas sempre que eu voltava ela já estava a todo vapor falando consigo/comigo, muda.
O telefone tocou. E eu nem cansei ainda de falar. Atendi, porque não poderia não atender. Mas atendi como outra pessoa. Usei outra voz, com o mesmo tom da minha. Mas era uma voz tão rasa que não calou a voz de dentro, que ecoa na profundidade.
Gostei de usar a voz rasa. Ela foi útil, útil como tudo que vem do ego. Útil para que eu não me gaste nas inutilidades.
Essa voz me deixou alegre. Senti que posso o que achava que não poderia.
Alegria boba e boa, dessas que se encaixam em qualquer lugar. Alegria daqui, que me desobriga a correr para o sol porque faz sol, ou arrumar a cama porque é dia.
Fiquei alegre também de ter um eu para tomar um café trocando amenidades.
A eu com quem converso me desperta muito respeito e hospitalidade. Gosto de tê-la (ter-me) aqui. Fico mais educada, quero causar boa impressão, para que suas (minhas) visitas sejam menos raras.
Mas mesmo gostando, me despeço. Tenho que falar com a Lóri. Não que eu tenha cansado da minha própria cia, mas é que quero tudo, sabe? Tenho muito o que falar e não me arrisco a entediar meu eu com meu maremoto de palavras jogadas mar adentro. Depois serei eu que terei que peneirar. E isso deixaria uma má impressão, para a "mim" que sou eu também.
Agora é a hora da Lóri. Esperarei a cafeína e o sol baixarem um pouco. Senão, falo demais, devolvo cada pensamento seu com filosofias furadas e sem fim. Quero falar pra dentro, mas falar devagar. E quero te escutar, Lóri. Quem sabe eu te responda por escrito, pra registrar nossa mudez. Quem sabe.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Femininas, meninas, e a natureza
A parte mulher do mundo, é a parte bela e confusa.
A emoção, a água, a fragilidade.
A beleza, a pureza, a divindade.
E no mundo, elas se reconhecem.
O que aqui expresso, é um pequeno registro de amor feminino:
Sereias cantam sobre a mesma pedra, umas para as outras.
Encantadas com suas próprias vozes ecoando juntas,
Esquecem de vitimizar os marinheiros.
Intensa troca. Suplica para ser expressada. Escrita, cantada.
Sem acordos, pudores, medinhos
Com acordes, poderes, carinhos
Os rumores? Cobrimos com cores.
O que há, o que é:
- Permissão e respeito ao poder feminino que habita na outra.
Poemas temáticos - Exposição Isidora&Mariana
O Lençol
Células mortas
Memória viva
Células vivas
História morta
Cobre e descobre a vida e a morte
Protege o escancarado
Vela o sono, enfeita o sexo
Lençol gosta de pele, pêlo
Saliva e respiração
cama e chão
colchão
Sempre manchado de gente,
Lençol, ente presente
A linha
No começo, o nó, para prende-la, fina linha.
Que perfura, pequenina, na garupa da agulha
E costura (como num nado, mergulha e emerge, ora exibida, ora omitida)
No final, o laço - une belo o embaraço do que a linha quis trançar
E ali ficam atados,
Elementos costurados no pano do mundo
É a trama da vida
Crua
Estou de alma nua num corpo vestido
E quando o corpo se despe, a alma dança
Como bichos no verão, lagartos sob o sol, fico nua para ti por instinto, pois essa é a minha natureza.
E nada cabe senão natureza no espaço que habitamos.
Por isso assim o faço, me desfaço, sinceramente à vontade.
Estou nuamente vestida. Apropriado e eterno traje para nossos encontros.
Não perecível
Não te achei. Apenas dei-me conta de ti.
O achar-te, traria o medo de perder-te.
Dei-me conta de ti em mim.
E não me distraio mais.
Agora já sei que és, estás, e em mim viverás.
Molho
Sou de água. Quase toda.
Em quase tudo.
Se cristalina ou lodo, escolha minha.
Se gelada ou morna, fértil ou estéril, decido eu.
Só não sou afeita a todo frasco. Transbordo o limite, evaporo sem ferver.
E o mais importante: não gosto de aquários.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Vento
Nunca gostei de vento. Já sou aérea o suficiente. Friorenta o suficiente.
Mas existe uma rara brisa marinha que me encanta, por ser quente.
É um vento perfumado de sal, que abraça o peito sem machucar. Causa arrepios nos meus arrepiados pelinhos e faz cafuné nos meus já bagunçados cabelos.
Esse ventinho quando chega, é recebido pelo meu corpo como um presente desavisado. Suspiro e sorrio, reflexos do prazer invisível.
Ah, vento quente, tão raro e passageiro és. Mas tua raridade garante minha surpresa. Tua fugacidade, minha inteireza. Porque, se não somes, me sopras como sopras os grãos de areia. E mesmo te adorando, prefiro estar inteira.
Brisa cálida, que já passou...eu não te espero voltar.
Mas se voltar, te recebo, pois gosto do teu sal no meu corpo, e do teu carinho nos meus cabelos.
Mas existe uma rara brisa marinha que me encanta, por ser quente.
É um vento perfumado de sal, que abraça o peito sem machucar. Causa arrepios nos meus arrepiados pelinhos e faz cafuné nos meus já bagunçados cabelos.
Esse ventinho quando chega, é recebido pelo meu corpo como um presente desavisado. Suspiro e sorrio, reflexos do prazer invisível.
Ah, vento quente, tão raro e passageiro és. Mas tua raridade garante minha surpresa. Tua fugacidade, minha inteireza. Porque, se não somes, me sopras como sopras os grãos de areia. E mesmo te adorando, prefiro estar inteira.
Brisa cálida, que já passou...eu não te espero voltar.
Mas se voltar, te recebo, pois gosto do teu sal no meu corpo, e do teu carinho nos meus cabelos.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
"Koi No Yokan"
Denso Reencontro.
No primeiro olhos-nos-olhos, a sensação alegre de rever quem já fazia parte da minha vida.
Tão íntimo e tão verdadeiro. Matei a saudade que não existia até então.
Ele estava no meu futuro. Aceitei-o, naturalmente, no suave reencontro.
Ele trazia a certeza. Certeza de não precisar entender para saber, não precisar testar para confiar.
Permiti sem medo a invasão do outro. Invasão não, pois esse estranho era de casa.
Seguimos o protocolo. Até porque, a vida exige. Passo a passo, sem atropelos.
Mas assinamos o acordo de elo eterno sem ler o contrato. Folheamos sem curiosidade as cláusulas dos poréns e entretantos.
Mesmo antes de termos algum papel na vida ou da vida do outro, já existiam, carimbadas no destino, nossas digitais cruzadas.
Permitir ou não permitir. Será que existe essa escolha?
Mesmo se nosso olhar não voltar a se encontrar, e nossas escolhas nos distanciarem...mesmo assim, o que existe, já existe. E foi construído antes de precisarmos pensar sobre.
E assim foi o reencontro.
No primeiro olhos-nos-olhos, a sensação alegre de rever quem já fazia parte da minha vida.
Tão íntimo e tão verdadeiro. Matei a saudade que não existia até então.
Ele estava no meu futuro. Aceitei-o, naturalmente, no suave reencontro.
Ele trazia a certeza. Certeza de não precisar entender para saber, não precisar testar para confiar.
Permiti sem medo a invasão do outro. Invasão não, pois esse estranho era de casa.
Seguimos o protocolo. Até porque, a vida exige. Passo a passo, sem atropelos.
Mas assinamos o acordo de elo eterno sem ler o contrato. Folheamos sem curiosidade as cláusulas dos poréns e entretantos.
Mesmo antes de termos algum papel na vida ou da vida do outro, já existiam, carimbadas no destino, nossas digitais cruzadas.
Permitir ou não permitir. Será que existe essa escolha?
Mesmo se nosso olhar não voltar a se encontrar, e nossas escolhas nos distanciarem...mesmo assim, o que existe, já existe. E foi construído antes de precisarmos pensar sobre.
E assim foi o reencontro.
domingo, 2 de junho de 2013
Não recomendo a verdade
A não ser para os que têm peito de remador, como dizia o Vinícius de Morais.
Ninguém gosta dela: é rejeitada, disfarçada, desmentida e contida em todos os níveis. Todo mundo quer é o igual, um "mini-me", como diz alguém que eu conheço. Concordar, fazer de conta são considerados diplomacia. Não se consegue aceitar, muito menos amar, o diferente.
Só tem um jeito de falar a verdade, sem que ela pareça o que é: pela metáfora. Mas com amigos íntimos é chato ficar falando dessa maneira. Ser amigo, afinal, é isso, não? Poder ser quem se é, porque quanto mais se é, mais amado também. Eu conheço isso, vivi e vivo isso. Com poucos, verdade, muito poucos!
Conheci um novo tipo de amizade, a amizade faísca. Brilha, incendeia e tem pouca duração. Parece amizade de infância, tamanha aceitação e intimidade. A vida fica mais rica, mais alegre, há muito que se contar uns aos outros. Tudo acrescenta, entusiasma, anima e o desejo é viver muito perto, contar com essa amizade como se conta com a própria vida.
Até que...algo se rompe: uma palavra mal dita, um momento desastrado ou uma diferença. Não somos iguais, é a constatação. Acabou!!! Dalí prá frente só ladeira abaixo. Os olhos não se encontram mais, a onda não se sente mais, evita-se o encontro e, quando ele acontece, que tristeza, só se constata o que já se sabe.
"Foi um rio que passou em minha vida e o meu coração se deixou levar..."
Deixa cicatrizes.
Até que vem outra...
Mas eu sou teimosa ou coerente demais para não ser quem sou e manter o que não é, para fazer de conta que existe algo que nunca houve.
Coisas pela metade...não quero!!
"Amigos", shame on you!!!
quinta-feira, 16 de maio de 2013
O mundo acaba em pizza. Ou em desespero.
(Acabei de encontrar este texto em uma das minhas pastas perdidas. Lembro te ter escrito para uma coletânea sobre o fim do mundo, em 2012.)
“(...) para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações (...)” – Jack Kerouac
A frase do Kerouac é só pra dizer que, para Paula, a intensidade do fim do mundo seria inversamente proporcional à da vida de cada um. Aqueles que queimaram feito a tocha olímpica terminarão seus dias molhando o jardim, lendo um bom livro ou cozinhando pacificamente a última refeição de seus entes queridos, calmamente. Já os que passaram a vida na janela, empurrando com a barriga, comentando a vida dos outros e postergando sua própria entrarão em completo desespero. Para estes, o fim do mundo será um caos lamacento de urros, uma borrifada de ácido em carne viva. Estes sairão correndo sôfregos, intensificando a balbúrdia, procurando sentir naquele último vil minuto, tudo: sangue correndo nas veias, olhos brilhantes, entusiasmo contagiante, garra, vontade de viver. Vontade de viver? Agora?
O mundo vai acabar, só não se sabe quando. Para Paula era mais uma questão de despertar da consciência do que o fim propriamente dito. Transformações acontecem o tempo todo e quiçá nós, seres humanos, não sobrevivamos, mas o planeta certamente sim, como foi o caso nos últimos bilhões de anos. De qualquer forma, Paula resolveu viver como se fosse realmente acontecer. Não porque ela acreditava nesta profecia nonsense, mas porque queria parar de procrastinar os seus sonhos. Ficou extremamente surpresa com os resultados: é incrível o quanto torna-se possível quando nossa mente está pré-programada para o sucesso; não de maneira ambiciosa, mas de forma de manifestar a grandeza do que já está dentro de nós. Isso se dá através da auto-observação sincera e da perseverança. Se você quer as coisas, torne-as possíveis e insista. Em algumas ocasiões não está sob nosso controle? É verdade, mas você deve fazer sua parte. Pode ser que tenhamos apenas este momento. Tudo o que precisamos é coragem e determinação. Se o seu mundo estivesse chegando ao fim, como viveria o momento presente?
Bem, Paula fez jus ao termo “carpe diem”. Conversou com princesas e mendigos, socialites e artistas, limpou chão de restaurantes e sentou-se ao lado de celebridades. Foi louca. Foi santa. Viveu intensamente a solidão e a glória, andou de ônibus entre assassinos e de limusine entre milionários babacas. Viveu a dor, a saudade, a perda, a confusão. Mentiu, roubou, errou, acertou. Passou a respeitar o medo, mas só após ignorá-lo por muito tempo. Meditou em cavernas milenares na Índia, teve mestres, leu, abandonou muitos empregos e mandou os horários à merda. Fez tudo ao mesmo tempo. Tudo porque o mundo ia acabar. Só ainda não sabia quando. Ficou claro o quanto o medo era o maior destruidor de sonhos. Foi só arrumar um medo maior, um fim, que os outros viraram pó.
Paula teve seus méritos, mas queria mesmo era abrir os olhos para algo maior do que ela: o fato de que cada um de nós é um ser único, com uma combinação muito peculiar de experiências que só pode produzir um resultado inusitado. Se o mundo não tem este resultado melhor de si, então você não está fazendo seu trabalho... E todos nós estamos perdendo com isso. Paula queria dar o seu melhor. E queria obter o SEU melhor: sim, o seu, leitor! Queria que lhe desse algo que só você poderia trazer para este mundo, faceta única, de preferência antes do fim.
Voltando à frase de “Na estrada”, de Kerouac, Paula chocou-se ao perceber o quanto nossa sociedade careteou ao longo dos anos. O fim do mundo é dos caretões, que deprimente. Pensou nos ETs falando “Vamos chacoalhar esse povo daqui, que eles não têm mais jeito. Viraram certinhos demais, uma sociedade chata, INSUPORTÁVEL em sua linha reta e em seu gosto pecaminoso em comentar as “escapadelas” dos outros, a “loucura” dos artistas, a felicidade dos que fazem aquilo que ninguém tem coragem. O politicamente correto tolheu esmagadoramente a liberdade de expressão, a liberdade de SER. É o fim de mundo em si mesmo, com ou sem catástrofes. Deixá-los viver seria deixá-los padecer no sofrimento”.
Também pensou que podíamos buscar formas mais atuais para mostrar ao mundo que a liberdade é a chave para a felicidade. Essa liberdade de anos atrás, que estava basicamente associada ao sexo livre e às drogas, está completamente ultrapassada. De que adianta uma liberdade que transforma o cara num fodido, ferrado no meio da crakolândia, um mendigo que “queimou, queimou, queimou como um fabuloso fogo de artifício”? E agora? Este cara queimou tanto para quê? O que ele tem para oferecer? Para contribuir? Para acrescentar? O cara vai morrer sozinho no meio fio de uma estrada. A vida dele foi linda. E em vão.
A liberdade consciente era o que Paula queria, é o que precisamos buscar. A liberdade com propósito. Fresca, pura, aerada, moderna, sem preconceitos, falsos pudores, padrões estabelecidos e de livre expressão. A que respeita a liberdade do próximo, promove o bem estar, tanto o nosso como o do mundo a nossa volta. Esta liberdade não produz mendigos que viveram a vida intensamente... e sim os transforma em LÍDERES que não tem nada a perder. O pior já passou. Se conquistada, foda-se o fim do mundo. Nem importa!
Este tipo de liberdade também é a que me dá o direito de dizer que Paula é apenas uma personagem inventada para que eu não precisasse usar meu nome verdadeiro e dar um testemunho que criasse provas contra mim, nesta realidade careta. Mas isso não será mais preciso, é o fim do mundo. Eu vou comer a minha pizza e você, se estava aí para me julgar, vai arder no fogo do não-ser.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Desapegar: a melhor forma de atrair
Texto de Lia Rocha
Nada como um insight, aquela ideia que surge das cinzas e magicamente completa o quebra-cabeças da vida que lhe consumiu tantas horas a fio e tantos neurônios. E foi assim, sem querer, numa noite sem estrelas e vendo o tempo passar lento, que a vida veio com mais uma de suas extravagantes sabedorias. Tive que desentender tudo para entender o que ela dizia: é preciso desapegar-se para poder pegar com mais intensidade. Naquela noite, aprendi que, além de deixar ir o que é ruim, desapego é permitir vir o que é bom. É preciso estar desprendido de crenças, paredes e corpos. Isso não quer dizer não tê-los – pelo contrário. Mas que nada disso te impeça de seguir um furacão, um vendaval ou mesmo uma boa brisa que seja. Texto de Lia Rocha Pode parecer contraditório, mas estar desapegado aguça o sentir, o olhar, a vontade. Permite-lhe se entregar aos momentos, estar mais presente e ser mais verdadeiro, porque livra você de tantos por quês, sês, serás… Essa é a fórmula do desapego. E, basicamente, ela vale para tudo: experiências gastronômicas, desamor com o chefe, dilemas existenciais, viagens imprevisíveis e SEMPRE para os relacionamentos. Na vida, nada segue uma mera receita de bolo. Mas há algumas práticas indispensáveis para quem quer desapegar. Em primeiro lugar, livre-se de tantas expectativas, do que virá amanhã ou daqui um mês; em segundo, da perfeição, de ter que ser e fazer o tal; e em terceiro, dos estagnantes medos. É, meu amigo, ninguém disse que seria fácil – principalmente se considerarmos que vivemos em um mundo onde parece que temos sempre que saber de tudo e estar no controle das situações. Mas vale a pena tentar. Foque em apenas aproveitar o momento sem pensar tanto, é aí que a mágica começa. Desapegar-se nada mais é do que viver o presente. Menos pés no passado que traz depressão, mais distância do futuro que tanto traz ansiedade. Afinal, o agora é o único tempo meramente vivo da nossa existência – o passado é lembrança e o futuro é especulação. E para viver o presente, é necessária uma certa dose de fluidez, como em um jogo; bola no campo da vida, essa grande artilheira que toca para alcançar o que deseja e manda pra escanteio quando preciso. Também é importante ter a compreensão de que há coisas, pessoas e situações que não adiantam ser forçadas ou controladas e que, nesses casos, melhor mesmo é deixa-las ir e abrir espaço para que o novo faça gol. Desapegar não quer dizer que nada importa, pelo contrário, é atestado de amor que deixa com que cada um seja quem é, que faça o que gosta e até que siga outro caminho, se desejar. É pensamento que faz com que coisas e pessoas em sintonia cheguem até você. Quando compreendemos isso, deixamos de querer mudar o que não podemos, de ansiar controlar momentos e pessoas, de querer transformá-las no que desejamos, de manter por perto quem não nos quer ou não nos faz bem, de empacar. Portanto, um conselho: desapegue para pegar. Simplesmente viva a beleza do presente e da realidade, aprenda com os inusitados caminhos da vida, teça relações mais leves, aproveite, beije com mais vontade, goze com mais verdade, divirta-se e se delicie. Não se contente com menos, seja feliz e lembre-se sempre de que todo amor livre tende a ser mais verdadeiro porque ele não conhece limites.
terça-feira, 30 de abril de 2013
Sintomas de gripe
Hoje quero pular 10 anos no tempo.
Voltar pro conforto da adolescência, ou voar para o meu futuro lar em família.
Só preciso de aconchego, só isso. Só hoje.
Só quero um sofá, um chá, um cachorro. Um pai ou um marido. Ou um filho.
Quero fazer compras do mês para mais de 1 pessoa.
Quero dividir meu café da manhã.
Quero carona. Quero dar carona.
Quero comprar 4 entradas de cinema.
Quero apagar luzes que não acendi.
Quero procurar minhas roupas na montanha de roupas passadas.
Quero alguém que opine sobre minhas roupas, que feche o zíper que não alcanço.
Quero alguém que possa achar coisas nas minhas gavetas bagunçadas, quando esqueço algo em casa. Quero alguém que me ajude a acordar quando o sono atrapalha, e que goste de preguiça aos domingos.
Quero ter de quem reclamar. Quero alguém pra massagear.
Quero que alguém cuide de mim.
Só por hoje. Não é sempre assim.
Voltar pro conforto da adolescência, ou voar para o meu futuro lar em família.
Só preciso de aconchego, só isso. Só hoje.
Só quero um sofá, um chá, um cachorro. Um pai ou um marido. Ou um filho.
Quero fazer compras do mês para mais de 1 pessoa.
Quero dividir meu café da manhã.
Quero carona. Quero dar carona.
Quero comprar 4 entradas de cinema.
Quero apagar luzes que não acendi.
Quero procurar minhas roupas na montanha de roupas passadas.
Quero alguém que opine sobre minhas roupas, que feche o zíper que não alcanço.
Quero alguém que possa achar coisas nas minhas gavetas bagunçadas, quando esqueço algo em casa. Quero alguém que me ajude a acordar quando o sono atrapalha, e que goste de preguiça aos domingos.
Quero ter de quem reclamar. Quero alguém pra massagear.
Quero que alguém cuide de mim.
Só por hoje. Não é sempre assim.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Lord Indra
Aqueles olhinhos julgadores como um soldadinho na porta do céu me olharam sem simpatia. Mas eu estava no meu terreno, protegida.
Foi assim. Com ar de sabido e segurança de quem já viveu que ele me intimou à verdade.
Analisou meus músculos emocionais, e, disse que minha atrofia seria curada quando eu me jogasse nas águas turvas da minha verdade.
Nem perguntou se eu sabia nadar. E eu me joguei. A água estava morninha. Mas cheia de correntes, sabe.
Aquelas mãos determinadas e cheias de opinião se mantinham escondidas sob braços cruzados, e existia um certo prazer em me ver nadar ora na luz, ora no lodo.
Ele não admitia, mas gostava de brincar. E dizia que eu que sabia jogar. Eu obedecia às regras da sua brincadeira.
Antes da chance de derrota, vitória, ou game over, ele pausava a tela. E o próximo play era sempre imprevisível.
Como um Deus controlador, age enérgico. Reflexo sou eu de suas fraquezas. E da sua franqueza.
Mas que seja, que assim seja.
Foi assim. Com ar de sabido e segurança de quem já viveu que ele me intimou à verdade.
Analisou meus músculos emocionais, e, disse que minha atrofia seria curada quando eu me jogasse nas águas turvas da minha verdade.
Nem perguntou se eu sabia nadar. E eu me joguei. A água estava morninha. Mas cheia de correntes, sabe.
Aquelas mãos determinadas e cheias de opinião se mantinham escondidas sob braços cruzados, e existia um certo prazer em me ver nadar ora na luz, ora no lodo.
Ele não admitia, mas gostava de brincar. E dizia que eu que sabia jogar. Eu obedecia às regras da sua brincadeira.
Antes da chance de derrota, vitória, ou game over, ele pausava a tela. E o próximo play era sempre imprevisível.
Como um Deus controlador, age enérgico. Reflexo sou eu de suas fraquezas. E da sua franqueza.
Mas que seja, que assim seja.
A caneta e o açúcar
Sento, me equilibro no banquinho sem acento que desafia meu corpo cansado. Apóio meus cotovelos nas embalagens de mariolas que devorei pra acalmar o pensamento.
Já é tarde, mas a vontade de escrever não passa, tento ocupar minha atenção me concentrando em desgrudar a mariola dos meus dentes. Elas parecem taradas. Agarram as gengivas por todos os lados, derretem-se ao redor do ídolo-dente.
E a vontade de escrever permanece. Rabisco todas as palavras que a caneta quiser, pra ver se dá rima. Quero compor outra música. Quero cantar minha composição, musicada por algum amigo que me acompanharia nesse acústico voz&violão não ensaiado.
Preciso pensar devagar. A regras de acentuação e pontuação não acompanham a velocidade do meu punho, que trabalha em apnéia, sem parar pra respirar. E minha letra, tão feia. Tão diferente das fontes (também feias) que uso. Ao menos as palavras que escrevo errado não ganham os sublinhados vermelhos que me desconcentram.
Pausa para outra mariola. Essa vez, vou tentar mante-la sobre a língua, evitando os abraços grudentos nos meus dentes. Hm...much better...
Meu olhar vago é atraído pela cortina agitada. Ela dança um bolero com o vento. A cortina, como o gênero da palavra diz, é a dama nessa dança. O vento, por sua vez, é o cavalheiro. O vento guia, a dama segue. Por vezes falta delicadeza e a dama-cortina é arremessada bruscamente. A cortina tropeça e o veto retoma o passo.
Eu acredito no vento. Mesmo sem ve-lo, observo o que faz com minha boba cortina. Ele existe. E tem poder. E assim me relaciono com tudo que não vejo: observo as consequências da existência do invisível.
Forte como o vento essa história de invisibilidade. Até me fez perder a linha de pensamento, que já estava enosada. Quem sabe esse novelo de palavras soltas chegou ao fim.
A dose cavalar de açúcar na minha boca, no meu sangue e (acidentalmente) nos meus cotovelos, melou meu raciocício.
Mas não freou o fascínio que a caneta causava na minha mão esquerta, tão canhota.
- Saudades de ser protagonista, mão ciumenta? - Digitando, a pobrezinha não se sobressai à outra. Agora domina a caneta, e a destra segura o papel, para que reine absoluta.
A caneta perdeu seu caráter indispensável. Deixou de fazer parte dos itens encontrados em qualquer bolsa. Do trio onipresente caneta-agendinha telefonica-kleenex, restou apenas o kleenex. Isso enquanto não inventarem um aplicativo neutralizador de lágrimas e coriza...
Um chá forte de camomila, por favor! Meu corpo precisa dormir, mas o trem de idéias desconexas movidos a açúcar segue a todo vapor. Quem sabe, na cama, vire um sonho divertido. Boa noite.
Já é tarde, mas a vontade de escrever não passa, tento ocupar minha atenção me concentrando em desgrudar a mariola dos meus dentes. Elas parecem taradas. Agarram as gengivas por todos os lados, derretem-se ao redor do ídolo-dente.
E a vontade de escrever permanece. Rabisco todas as palavras que a caneta quiser, pra ver se dá rima. Quero compor outra música. Quero cantar minha composição, musicada por algum amigo que me acompanharia nesse acústico voz&violão não ensaiado.
Preciso pensar devagar. A regras de acentuação e pontuação não acompanham a velocidade do meu punho, que trabalha em apnéia, sem parar pra respirar. E minha letra, tão feia. Tão diferente das fontes (também feias) que uso. Ao menos as palavras que escrevo errado não ganham os sublinhados vermelhos que me desconcentram.
Pausa para outra mariola. Essa vez, vou tentar mante-la sobre a língua, evitando os abraços grudentos nos meus dentes. Hm...much better...
Meu olhar vago é atraído pela cortina agitada. Ela dança um bolero com o vento. A cortina, como o gênero da palavra diz, é a dama nessa dança. O vento, por sua vez, é o cavalheiro. O vento guia, a dama segue. Por vezes falta delicadeza e a dama-cortina é arremessada bruscamente. A cortina tropeça e o veto retoma o passo.
Eu acredito no vento. Mesmo sem ve-lo, observo o que faz com minha boba cortina. Ele existe. E tem poder. E assim me relaciono com tudo que não vejo: observo as consequências da existência do invisível.
Forte como o vento essa história de invisibilidade. Até me fez perder a linha de pensamento, que já estava enosada. Quem sabe esse novelo de palavras soltas chegou ao fim.
A dose cavalar de açúcar na minha boca, no meu sangue e (acidentalmente) nos meus cotovelos, melou meu raciocício.
Mas não freou o fascínio que a caneta causava na minha mão esquerta, tão canhota.
- Saudades de ser protagonista, mão ciumenta? - Digitando, a pobrezinha não se sobressai à outra. Agora domina a caneta, e a destra segura o papel, para que reine absoluta.
A caneta perdeu seu caráter indispensável. Deixou de fazer parte dos itens encontrados em qualquer bolsa. Do trio onipresente caneta-agendinha telefonica-kleenex, restou apenas o kleenex. Isso enquanto não inventarem um aplicativo neutralizador de lágrimas e coriza...
Um chá forte de camomila, por favor! Meu corpo precisa dormir, mas o trem de idéias desconexas movidos a açúcar segue a todo vapor. Quem sabe, na cama, vire um sonho divertido. Boa noite.
segunda-feira, 8 de abril de 2013
O tombo do castelinho de cartas
A vida é uma desilusão. DESilusão. Por um lado, não é bom que seja assim, se tudo o que é ilusão é irreal? Por outro, pelamordedeus o que é real então? (risos!) As pessoas são decepcionantes, os acontecimentos são muitas vezes frustrantes, a gente constrói um castelinho lindo de crenças e já logo nosso tapete é puxado, um após o outro, a cada castelinho construído. E a vida vai ficando menos romântica, menos excitante, menos ilusória. Mas a ilusão é tão gostosinha, então ficamos bem tristes a cada vez que nosso castelinho cai. Frustrados, desanimados, sem vontade de viver. É preciso achar forças sabe lá de onde para levantar novamente. Quer dizer, eu sei de onde.
É preciso estar conectado com algo maior do que nós mesmos. É preciso abrir espaço para o inusitado. Quando a gente não consegue visualizar a saída ou a solução para o nosso problema, é muito mais produtivo simplesmente conectar-se a uma inteligência maior (pra não chamar de Deus), que tenha uma visão mais ampla do que a nossa. A gente vai virando meio burro de carga, com aqueles dois protetores nos olhos, que não permitem ampliar a vista. E a gente vicia em só olhar aqueles velhos conhecidos caminhos, a trilhar aqueles velhos padrões de comportamento, a repetir velhas fórmulas. Então isso é o que eu digo a cada vez que algum amigo me vem com um problema bem cabuloso, aparentemente insolucionável: saia do mental. Não é pela mente que se encontra a saída. Não é pensando, pensando, pensando no seu problema, e sim abrindo espaço para o impensável: aquela solução que você não conseguiu pensar, por limitação própria. Tenho uma amiga que mora em uma praia linda, um dos lugares mais maravilhosos do sul. Mas ela me disse que não se permite ir para a praia quando não está trabalhando, porque se sente culpada em estar "aproveitando a vida" enquanto deveria estar focada em encontrar um trabalho. Mas ela já fez tudo o que tinha pra fazer em relação ao trabalho... ou seja... não vai a praia e fica em casa pirando. Isso é produtivo, gente? De certa forma, todos nós fazemos isso. Nos punimos quando a melhor coisa a fazer seria desencanar, ir à praia, relaxar a mente. Entramos em um redemoinho... e a tendência é ir cada vez mais pra baixo. Acontece comigo também, não estou julgando, estou observando. A cada vez que me pego dando esse passinho, procuro prestar atenção e, ao invés de me fechar, me ABRIR. Abrir, abrir, abrir... abrir espaço para o inusitado. Deixar que a melhor solução se apresente. Para isso, me conecto com energias mais limpas, mais elevadas, medito, entro em contato com a natureza, faço exercícios físicos. Saio desse mundo cão e entro em um mundo que existe um degrau acima, onde os meus problemas são ridículos e a solução para eles vem como um passe de mágica. Veja bem, desencanar não é tocar o foda-se e ir pro bar beber. Pelo contrário, é entrar em contato com o que existe de melhor em você. "Contra o mal, vou ser ainda melhor": não sei de quem é a frase, mas sei que o mundo realmente poderia ser mais massa se todos agíssemos assim.
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo.
(Quero aquela respirada profunda agora!)
Tamo junto.
domingo, 7 de abril de 2013
Viver em liberdade
Cada vez mais me certifico de que tenho que fazer tudo que quero, de acordo com o que sinto e intuo, completamente livre de qualquer autoridade externa ou leis auto-impostas.
Cada vez mais ser humano e revelar a beleza e importância da consciência, única coisa que nos diferencia de outros seres desse universo.
Livre por saber que existe tudo dentro de mim. Conheço o mundo por mim mesma, se tiver suficiente sinceridade de me desvelar. O meu estado interno é a única bússola real, o parâmetro que indica o caminho.
Ser para me sentir bem, em fluxo, não empacada por medos e condicionamentos que me fazem sentir menos do que sou. Alvo de manipulações de qualquer espécie: religiosas, filosóficas, mentais... bem ou mal intencionadas. Nada substitui a experiência particular que temos ao viver, ao sentir. Sabemos tudo que quisermos saber acerca do mundo e das pessoas, inclusive da nossa vida e futuro. Serei o que estou plantando agora. Tenho que ser responsável por isso e não acusar quem quer que seja pelas sementes que germinam depois de plantadas.
Como é bom ser bom!!! Já dizia meu amigo! Não pelo outro, nem pela virtude, mas pela liberdade interna, não sendo prisioneira de estados mentais que me diminuem e me colocam em falta, com o outro, com a vida, com a alegria de viver sem culpa.
Cada vez mais ser humano e revelar a beleza e importância da consciência, única coisa que nos diferencia de outros seres desse universo.
Livre por saber que existe tudo dentro de mim. Conheço o mundo por mim mesma, se tiver suficiente sinceridade de me desvelar. O meu estado interno é a única bússola real, o parâmetro que indica o caminho.
Ser para me sentir bem, em fluxo, não empacada por medos e condicionamentos que me fazem sentir menos do que sou. Alvo de manipulações de qualquer espécie: religiosas, filosóficas, mentais... bem ou mal intencionadas. Nada substitui a experiência particular que temos ao viver, ao sentir. Sabemos tudo que quisermos saber acerca do mundo e das pessoas, inclusive da nossa vida e futuro. Serei o que estou plantando agora. Tenho que ser responsável por isso e não acusar quem quer que seja pelas sementes que germinam depois de plantadas.
Como é bom ser bom!!! Já dizia meu amigo! Não pelo outro, nem pela virtude, mas pela liberdade interna, não sendo prisioneira de estados mentais que me diminuem e me colocam em falta, com o outro, com a vida, com a alegria de viver sem culpa.
quinta-feira, 14 de março de 2013
Pureza
Saí do trabalho rumo ao abraço.
Pedalei pacientemente, até o pitstop intencional para uma rápida visitinha.
O porteiro me confunde com alguém. E eu finjo ser esse alguém. Entro no elevador rindo. Abro a porta do apartamento escuro e destrancado. O corpo do menino esparramado no sofá com cheiro de sono me olha e sorri.
Sem sair do sofá me abraça forte. Iniciamos o questionário básico de amigos com saudades.
Ele fala de trabalho, eu falo de trabalho. No meio do gesticular, descubro nele uma nova tatuagem, e ele me mostra em seu caderninho o desenho, me conta o significado, e fala sobre os elementos do seu mapa astral.
Discutimos amenidades e fofocamos sobre vizinhos interessantes. Os vizinhos dele. E o meu vizinho. Ele resolve pausar o filme, que interrompi sem pedir licença. Deixei o pobre Petit Nicolas falando francês com as paredes.
O tema muda. Compomos um mini discurso anti drogas. Que bonitos somos. E esperançosos.
Eu pergunto, ele responde: A menina linda com quem sai esta fisgando bastante espaço na sua vida. Que bonitinho. Ele é esperto e faz a leitura da princesa de uma forma tão realista. Sinto orgulho de mãe.
Ele é movido pelo tesão juvenil. Compartilha os fatos comigo como se estivesse no divã. Me sinto uma terapeuta vivida, uns 30 anos mais velha que ele. Ele pede minha opinião. Eu escuto tudo sorrindo, e opino.
Ele me elogia e muda de assunto. Faz cócegas e me embala num abraço sonolento. Começo eu a contar minhas aventuras enquanto ele me olha, com uma ruga na testa. É preocupação. Ele se preocupa comigo. E eu, com ele.
Acompanho o amadurecer desse menino-homem. A gente se escuta, e ele sorri pra mim, a mulher-menina.
Já é tarde, preciso pedalar antes que o sono me pegue desprevenida nesse sofá quentinho. Observo analiticamente seus gestos antes de me despedir. Que pessoa livre, meu Deus. Me vejo nele todinha. Inclusive nas faltas de noção. Aprendo a medir minhas palavras ouvindo seus baldes de frases sem cuidado com meus ouvidos (mesmo mal-medidas, todas têm amor, e são sinceras).
-Passa pra me visitar?
-Passo, vamos inventar alguma coisa.
-Quero conhecer tua gatinha.
-Hahaha, ah Mari...
-Boa noite, te cuida.
-Vai com cuidado, catarininha.
Existe pureza.
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